Análise das ilustrações de Alceu Penna na revista “O Cruzeiro” como referência de moda da década 1950

SOCIEDADE DOM BOSCO DE EDUCAÇÃO E CULTURA FACULDADE DE ARTE E DESIGN – FAD / FACED

Jessica Tavares de Oliveira

Maria Alice Gonçalves Oliveira Rocha Tolentino

Vanessa de Souza Silva

INTRODUÇÃO

Desde criança Alceu Penna causava admiração em seus amigos com sua habilidade para o desenho. Ele tentou cursar arquitetura na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, mas seu desejo de trabalhar com a arte foi mais forte, e em 1938 foi inaugurada sua coluna para a revista O Cruzeiro, intitulada “As Garotas do Alceu”. Durante os 26 anos em que foi publicada, a coluna teve repercussão na vida de suas leitoras.
Na época um dos meios de comunicação mais acessível a população era o impresso. Na década de 1950, a revista “O Cruzeiro” foi considerada a publicação de maior importância, sendo a primeira a conter ilustrações coloridas, alcançando leitores do todo o Brasil.
Alceu foi uma presença marcante na revista “O Cruzeiro”, pois contribui com as matérias sobre design de moda, sugestões de fantasia e dicas de beleza. Além disso, seu mais marcante trabalho no impresso foi a coluna “As Garotas”, incluía diversos assuntos, o que integrava textos humorados de alguns redatores às imagens de belas garotas vestidas de acordo com a proposta de design de moda da época.
O vestuário feminino da década de 1950 foi bem marcante, principalmente as referências como o New Look do designer Christian Dior, o delineado e óculos em estilo “gatinho”, os shorts e calças, ou seja, designs que carregavam a feminilidade esquecida nos tempos de guerra e traços de uma crescente liberdade no modo de vestir das mulheres.
Através das ilustrações de Alceu foi possível identificar com facilidade o design da indumentária da década 1950. O ilustrador representava as tendências internacionais no cotidiano das brasileiras, principalmente das cariocas, pois era no Rio de Janeiro que “As Garotas” eram retratadas.
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BREVE HISTÓRIA DE ALCEU PENNA

Rosto cheio, baixinho e peso um pouco acima da média, Alceu Penna levava desvantagem física em relação aos colegas do seu tempo de colégio, mas isso não mudava em nada sua popularidade, devido seu talento para o desenho.

Nascido em 1° de janeiro de 1915 em Curvelo, uma pequena cidade de Minas Gerais, situada em um grande chapadão na região central do estado. Desde criança era destacado por suas habilidades com os desenhos, e seus colegas admiravam sua rapidez para de retratar pessoas com lápis e papel, e fazer charges e caricaturas (JUNIOR, 2011, pag. 19 e 22).
Filho de Christiano Penna e Mercedes de Paula Penna, Alceu teve 10 irmãos:
Evaristo, Josaphat, América, Neide, Cláudio, Aloísio, Adalto, Maria Carmem, Terezae Christiano. Ao terminar o ginásio, como mandava a tradição, todos os filhos homens eram mandados para Diamantina ou Ouro Preto, cidades que tinham faculdades. Já as mulheres cursavam apenas o magistério e recebiam uma educação doméstica para se tornarem esposas exemplares (JUNIOR, 2011, pag.29). Josaphat, Cláudio e Adalto foram enviados para cursar medicina, sendo que esse último citado, no meio do curso, mudou para odontologia. Evaristo se tornou engenheiro e Christiano funcionário público. Aloísio foi cuidar das terras do pai como um bem-sucedido criador de gado de Curvelo.

Desde novo Alceu dizia que queria ser um pintor famoso, o que seu pai considerava uma blasfêmia. Mesmo assim, ele insistiu em seu desejo extravagante e seguiu pelos caminhos da arte (JUNIOR, 2011, pag. 29).
Em janeiro de 1932, com 17 anos, mudou-se para casa dos tios Alexandre  e sua esposa Maria Isabel no Rio de Janeiro, para cursar a faculdade de arquitetura, a pedido de seu pai, na Escola Nacional de Belas Artes, mas não chegou a concluir o curso.

Então, Alceu focou em seus talentos artísticos e passou a visitar jornais e revistas para divulgar e vender seus desenhos. (JUNIOR, 2011, pag. 34).
A contribuição de Alceu Penna para a ilustração de moda causou grande impacto e impressionou, por exemplo, o cartunista Ziraldo: “Não tenho, porém, conhecimento, na história de nossa imprensa, de nenhum outro artista que tenha 9 influenciado, com seu trabalho, o comportamento de toda uma geração” (JUNIOR, 2011, pag. 306).
Em 1975, com 60 anos, o ilustrador sofreu um infarto que acabouprejudicando suas funções motoras. Depois disso, ele ainda tentou desenhar, mas não obtinha o mesmo resultado. Em um domingo, 13 de janeiro de 1980, AlceuPenna sofre morte cerebral, e pouco depois, morre. A admiração por seu trabalho continuaria viva por muito tempo. (JUNIOR, 2011, pag. 29).
2.1

A trajetória do ilustrador Alceu Penna

Ao longo de sua carreira Alceu Penna desenvolveu vários trabalhos. Assim que se mudou para o Rio de Janeiro em 1932, seu objetivo era fazer faculdade, para buscar uma condição estável. Mas ele preferiu investir em seu talento para o desenho gráfico, acreditando que assim poderia chegar ondeexatamente queria (JUNIOR, 2011, pag. 48).
A primeira publicação importante de Alceu foi uma série de ilustrações no começo de 1933, para o Suplemento Infantil de O jornal, de Chateaubriand. Esse trabalho permitiu que ele tivesse acesso a revista do mesmo grupo, O Cruzeiro, onde começou com ilustrações para sua capa e mais tarde desenvolveu a coluna “As Garotas”, que começou em 1938 e manteve-se ininterruptamente até 1964 (JUNIOR, 2011, pag.51 e 90).
A partir desse momento, a vocação do ilustrador abriu portas para outras publicações importantes da época, como a capa desenvolvida para a revista “Cidade Maravilhosa”, em 1936.

Ele ainda contribuiu com ilustrações para as revistas “Esquire” (Estados Unidos da America), em 1940, e as revistas “Tricô e Crochê”, em 1951, e “Manequim” para assuntos de noiva e carnaval, em 1974. Além de “O Jornal”, que contou com seus desenhos para sua coluna “Suplemento Feminino”, entre 1963 a 1965. 1
As ilustrações para livros também foram frequentes. Seus trabalhos aprecemem “Primeira Leitura”, de Luiz Gonzaga Jr. (1939), “O Mystério do Castelo Cor de Rosa” (1939), “Chapeuzinho Vermelho” (1940), “A Estrela Azul”, de Murilo Araújo

1Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378586/alceu-penna> Acessado em
11/04/2016.
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(1940), “Detalhes de Elegância e Beleza”, de Elza Marzulo (1948), capa do livro
“Gente Miúda”, de Albano Paulo de Paula (1948) e ilustrações para “ABC das Mães”,de Odilon Andrade (1969).2
De 1946 a 1952

Alceu trabalhou na execução de uma série de calendário para a empresa Moinhos Santista, onde desenhou garotas com uma sensualidadealém de sua época. Desenvolveu também cartazes e propagandas para muitas marcas, como Cigarros Odalisca e Casa Levy (ambas em 1939).3
O ilustrador era decidido a mudar-se para os Estados Unidos e o êxito da coluna As Garotas não abalou essa decisão. Convenceu seu chefe e amigo Acioly Neto a enviá-lo como correspondente da revista O CRUZEIRO para cobrir a Feira Mundial de Nova York. (JUNIOR, 2011, pag. 96)
Nas décadas de 1950, 1960 e 1970 desenvolveu figurinos e cenários para diversos shows e espetáculos teatrais.

Em 1954 criou uma fantasia para Martha Rocha participar de um concurso de beleza e para Emília Corrêa de Lima concorrer à Miss Brasil 1955. Em 1939, Alceu ainda teve a oportunidade de recriar o figurino de Carmem Miranda (JUNIOR, 2011, pag.102). Seus trabalhos de fantasias e figurinos lhe renderam alguns prêmios.4
A contribuição de Alceu Penna para os figurinos da Companhia Rhodia começou em 1962 e durou até 1975 e incluía desenhos para o caderno de orientação de moda da marca e contribuições para os desfiles. Ele se dedicou tanto a este trabalho que teve que deixar a coluna “As Garotas” para cumprir seus compromissos com a Companhia (JUNIOR, 2011, pag. 96 e 256).
Apesar de Alceu Penna ter ganhado tamanha notoriedade após anos de variados trabalhos, ele nunca se esqueceu da verdadeira essência de seu trabalho: a arte. Muitas noivas subiram ao altar com criações dele, sem que cobrasse um centavo, apenas pela satisfação vê-las felizes 5.

Dentre todas as suas realizações a que mais se destacou foi a coluna “As Garotas”, na revista O CRUZEIRO. A partir dessas publicações, ele conseguiu transmitir seus conhecimentos de moda, que acabaram por refletir no comportamento das mulheres da época.

2Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378586/alceu-penna> Acessado em
11/04/2016.
3Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378586/alceu-penna> Acessado em
11/04/2016.
4Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832010000100009&script=sci_arttext>
Acessado em 09/04/2016.
5Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832010000100009&script=sci_arttext>
Acessado em 09/04/2016
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https://www3.faced.br/wp-content/uploads/2017/02/AN%C3%81LISE-DAS-ILUSTRA%C3%87%C3%95ES-DE-ALCEU-PENNA-NA-REVISTA-%E2%80%9CO-CRUZEIRO%E2%80%9D-COMO-REFERENCIA-DE-MODA-NA-DECADA-DE-1950.pdf

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