Garotas do velho Rio – as personagens de Alceu Penna e seu pertencimento cultural à cidade do Rio de Janeiro

Autora:  Daniela Queiróz Campos

Pós-doutoranda École de Hautes Études en Sciences Sociales de Paris / Supervisão do Professor Dr. Georges Didi-Huberman, Bolsista CNPq.

“Girls of the old Rio:  The characters of Alceu Penna and his cultural belonging to the city of Rio de Janeiro. 1″

Resumo:

O presente artigo aborda o pertencimento cultural das personagens da coluna Garotas do Alceu à cidade do Rio de Janeiro. A coluna circulou nas páginas da grande revista brasileira de variedades de meados do século XX o Cruzeiro (1928- 1975) de 1938 a 1964. Garotas era o título da afamada coluna de pin-ups ilustrada pelo desenhista mineiro Alceu Penna. As personagens femininas traçadas por Penna semanalmente apresentavam aos leitores de o Cruzeiro do cotidiano de jovens mulheres “modernas” em diferentes situações sociais que abarcavam novos modelos de sociabilidade urbana naquele Rio de Janeiro dos anos dourados pós segunda Grande Guerra mundial.

Palavras-chave: imagem. revista. cidade

Abstract:

This paper discusses the cultural belonging of the Alceu Penna’s column characters, the Girls or Garotas, to the city of Rio de Janeiro. The column circulated on the pages of the great Brazilian varieties magazine of the mid-twentieth century –O Cruzeiro (1928-1975) – from 1938 to 1964. To so called Garotas constituted the renowned pin-ups column, which the drawer Alceu Penna illustrated. The female characters drawn by Penna presented weekly for the readers of the magazine the daily lives of young “modern” women in different social situations that encompassed new models of urban sociability of Rio de Janeiro’s golden years – post Second World World.

Keywords: image. magazine. city.


Leia na íntegra:

https://www.rbhcs.com/rbhcs/article/view/352

1 O presente artigo apresenta-se como desmembramento de pesquisa doutoral realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina sub a orientação da Professora Doutora Maria Bernardete Ramos Flores, tendo sido realizado um estágio doutoral na EHESS de Paris com o Professor Doutor Georges Didi-Huberman, ambos (doutorado e período de sanduiche) com bolsa CAPES.

 

Mulheres Ilustradas – Representações femininas nos Estados Unidos e no Brasil (1890-1945)

Autora: Joviana Fernandes Marques

Orientadora: Maria Claudia Bonadio

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Artes, Cultura e Linguagens do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora como requisito parcial a obtenção do grau de Mestre em Artes, Cultura e Linguagens.

Resumo

A presente pesquisa busca traçar um panorama sucinto das transformações observadas na ilustração americana, tendo por base um recorte temporal definido que abrange as décadas de 1890 a 1945. Para tanto, selecionamos um número limitado de artistas que tornam seus trabalhos símbolos de tais representações, analisando-os e comparando-os afim de nos aproximarmos de seu papel social, político e cultural, visando compreender as mutações sofridas em modelos ilustrados ao longo do anos. Assim procedemos também no capítulo último, ao elegermos para análise o ilustrador brasileiro Alceu Penna, no intuito de traçar os diálogos da ilustração americana com a ilustração nacional. Palco de grande produtividade gráfica, o recorte temporal proposto se inicia no fim da década de 1890 nos Estados Unidos, período que viu o nascimento do modelo da new woman personificado nos traços das famosas Gibson Girls. Percorremos a década de 1920, onde a euforia dos “anos loucos” deu a luz à mulheres de tornozelos a mostra e madeixas curtíssimas: a Era flapper. Com a Grande Depressão de 1929 bem como a Segunda Guerra Mundial, outro modelo emerge, as pin ups, transformando a euforia anterior em uma atmosfera regada ao patriotismo e sensualidade. Sua influência chega até o território nacional, influenciando a produção de ilustradores diversos, como o mineiro Alceu Penna. Para construir e compreender as transformações sofridas e suas influências, nos valemos de fontes primárias, como as ilustrações encontradas em acervos digitais e pessoais de colaboradores, e secundárias, como livros diversos, artigos e ensaios. Buscamos traçar diálogos que enriqueçam o debate em torno das representações ilustrativas de ambos países, esperando expandir os olhares a respeito dos caminhos que a ilustração é capaz de revelar. Ao analisarmos representações do feminino em Alceu Penna por paralelos e conversas com modelos norte-americanos, esperamos auxiliar nas visualizações de similaridades e diferenças entre as duas produções, contribuindo com novos pensamentos sobre o material gráfico de tais culturas, suas potencialidades e aproximações.

Palavras-chave: Ilustração, Estados Unidos, Brasil, Mulheres, pin up, Alceu Penna.

Abstract

This research seeks to draw a brief overview of the changes observed in american illustration, based on a defined time frame spanning the decades from 1890 to 1945. To this end, we selected a limited number of artists who make their work popular symbols of such representations, analyzing and comparing them in order to get closer to its social, political and cultural role, to understand the changing in models shown throughout the years. Likewise we proceeded in the last chapter. We elect to analyze the brazilian illustrator Alceu Penna in order to map out the dialogues of american illustration with national illustration. A stage for large graphical productivity, the proposed time frame begins at the end of the 1890s in the United States, a period that we saw the birth of the new model of woman personified in the features of the famous Gibson Girl. Go through to the 1920s, where the euphoria of the “crazy years” gave birth to women’s ankles show and very short strands: the Age of the flapper. With the Great Depression of 1929 and World War II, another model emerges, the pin ups, making the previous euphoria in an atmosphere watered with patriotism and sensuality. Its influence reaches the country, influencing the production of various illustrators, like Alceu Penna. To build and understand the transformations suffered and their influences, we make use of primary sources, such as the illustrations found in digital museum collections and personal archives, and secondary sources, as several books, articles and essays. We seek to trace dialogues to enrich the debate about the illustrative representations of both countries, hoping to expand looks about the ways that the illustration is able to reveal. Analyzing female representations in Penna by parallels and conversations with north american models, we hope to assist in views of similarities and differences between the two productions, contributing with new thoughts on the graphic material of such cultures, their approaches and potential.

Keywords: Illustration, United States, Brazil, Pin up, Alceu Penna.


Leia na íntegra: http://www.ufjf.br/ppgacl/files/2016/07/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Joviana-para-CD.pdf

Os valores e papéis sociais femininos nos figurinos de moda de Alceu Penna

Autora: Rosane S. F. Guerin
Graduada em Moda pela Universidade Anhembi Morumbi (2000). Especialização em Moda: Criação e Produção pela Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC (2002). Mestrado em Educação e Cultura pela mesma universidade (2007). Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP (2009).
E-mail: [email protected]

The values and women’s social roles in fashioned outfits of Alceu Penna

Resumo

Este artigo refere-se a uma pesquisa que abrange as áreas da semiótica discursiva, comunicação e moda, tendo como universo o conjunto de imagens de moda dos figurinos de Alceu Penna inserido na coluna Figurinos da revista O Cruzeiro,
da década de 1950. Desse conjunto foi extraído o corpus de pesquisa, possibilitando estudar a visibilidade das práticas sociais referentes a determinado simulacro feminino e tipo de mulher inscritos no universo imagético da revista. Busca-se identificar e analisar as imagens de moda propostas pelo figurinista que assinalam modos de presença feminina e que perseguem a construção de um simulacro de mulher brasileira

Abstract

This article refers to a research which covers the areas of discursive semiotics, communication and fashion, considering its universe the set of Alceu Penna’s fashion plates within the column Figurinos in the magazine O Cruzeiro from the 1950’s. The corpus of this research was built out of this set of images, which enables to study the visibility of the social practices regarding some female simulacrum inserted in the illustrated universe of the magazine. One intends to identify and analyze the fashion images proposed by the designer which point out the feminine presence and tracks
the creation of the Brazilian woman simulacrum.
[key words] O Cruzeiro magazine; fashion; Alceu Penna; plastic semiotics; social semiotics.


Leia na íntegra: https://dobras.emnuvens.com.br/dobras/article/download/167/166

Análise das ilustrações de Alceu Penna na revista “O Cruzeiro” como referência de moda da década 1950

SOCIEDADE DOM BOSCO DE EDUCAÇÃO E CULTURA FACULDADE DE ARTE E DESIGN – FAD / FACED

Jessica Tavares de Oliveira

Maria Alice Gonçalves Oliveira Rocha Tolentino

Vanessa de Souza Silva

INTRODUÇÃO

Desde criança Alceu Penna causava admiração em seus amigos com sua habilidade para o desenho. Ele tentou cursar arquitetura na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro, mas seu desejo de trabalhar com a arte foi mais forte, e em 1938 foi inaugurada sua coluna para a revista O Cruzeiro, intitulada “As Garotas do Alceu”. Durante os 26 anos em que foi publicada, a coluna teve repercussão na vida de suas leitoras.
Na época um dos meios de comunicação mais acessível a população era o impresso. Na década de 1950, a revista “O Cruzeiro” foi considerada a publicação de maior importância, sendo a primeira a conter ilustrações coloridas, alcançando leitores do todo o Brasil.
Alceu foi uma presença marcante na revista “O Cruzeiro”, pois contribui com as matérias sobre design de moda, sugestões de fantasia e dicas de beleza. Além disso, seu mais marcante trabalho no impresso foi a coluna “As Garotas”, incluía diversos assuntos, o que integrava textos humorados de alguns redatores às imagens de belas garotas vestidas de acordo com a proposta de design de moda da época.
O vestuário feminino da década de 1950 foi bem marcante, principalmente as referências como o New Look do designer Christian Dior, o delineado e óculos em estilo “gatinho”, os shorts e calças, ou seja, designs que carregavam a feminilidade esquecida nos tempos de guerra e traços de uma crescente liberdade no modo de vestir das mulheres.
Através das ilustrações de Alceu foi possível identificar com facilidade o design da indumentária da década 1950. O ilustrador representava as tendências internacionais no cotidiano das brasileiras, principalmente das cariocas, pois era no Rio de Janeiro que “As Garotas” eram retratadas.
8

BREVE HISTÓRIA DE ALCEU PENNA

Rosto cheio, baixinho e peso um pouco acima da média, Alceu Penna levava desvantagem física em relação aos colegas do seu tempo de colégio, mas isso não mudava em nada sua popularidade, devido seu talento para o desenho.

Nascido em 1° de janeiro de 1915 em Curvelo, uma pequena cidade de Minas Gerais, situada em um grande chapadão na região central do estado. Desde criança era destacado por suas habilidades com os desenhos, e seus colegas admiravam sua rapidez para de retratar pessoas com lápis e papel, e fazer charges e caricaturas (JUNIOR, 2011, pag. 19 e 22).
Filho de Christiano Penna e Mercedes de Paula Penna, Alceu teve 10 irmãos:
Evaristo, Josaphat, América, Neide, Cláudio, Aloísio, Adalto, Maria Carmem, Terezae Christiano. Ao terminar o ginásio, como mandava a tradição, todos os filhos homens eram mandados para Diamantina ou Ouro Preto, cidades que tinham faculdades. Já as mulheres cursavam apenas o magistério e recebiam uma educação doméstica para se tornarem esposas exemplares (JUNIOR, 2011, pag.29). Josaphat, Cláudio e Adalto foram enviados para cursar medicina, sendo que esse último citado, no meio do curso, mudou para odontologia. Evaristo se tornou engenheiro e Christiano funcionário público. Aloísio foi cuidar das terras do pai como um bem-sucedido criador de gado de Curvelo.

Desde novo Alceu dizia que queria ser um pintor famoso, o que seu pai considerava uma blasfêmia. Mesmo assim, ele insistiu em seu desejo extravagante e seguiu pelos caminhos da arte (JUNIOR, 2011, pag. 29).
Em janeiro de 1932, com 17 anos, mudou-se para casa dos tios Alexandre  e sua esposa Maria Isabel no Rio de Janeiro, para cursar a faculdade de arquitetura, a pedido de seu pai, na Escola Nacional de Belas Artes, mas não chegou a concluir o curso.

Então, Alceu focou em seus talentos artísticos e passou a visitar jornais e revistas para divulgar e vender seus desenhos. (JUNIOR, 2011, pag. 34).
A contribuição de Alceu Penna para a ilustração de moda causou grande impacto e impressionou, por exemplo, o cartunista Ziraldo: “Não tenho, porém, conhecimento, na história de nossa imprensa, de nenhum outro artista que tenha 9 influenciado, com seu trabalho, o comportamento de toda uma geração” (JUNIOR, 2011, pag. 306).
Em 1975, com 60 anos, o ilustrador sofreu um infarto que acabouprejudicando suas funções motoras. Depois disso, ele ainda tentou desenhar, mas não obtinha o mesmo resultado. Em um domingo, 13 de janeiro de 1980, AlceuPenna sofre morte cerebral, e pouco depois, morre. A admiração por seu trabalho continuaria viva por muito tempo. (JUNIOR, 2011, pag. 29).
2.1

A trajetória do ilustrador Alceu Penna

Ao longo de sua carreira Alceu Penna desenvolveu vários trabalhos. Assim que se mudou para o Rio de Janeiro em 1932, seu objetivo era fazer faculdade, para buscar uma condição estável. Mas ele preferiu investir em seu talento para o desenho gráfico, acreditando que assim poderia chegar ondeexatamente queria (JUNIOR, 2011, pag. 48).
A primeira publicação importante de Alceu foi uma série de ilustrações no começo de 1933, para o Suplemento Infantil de O jornal, de Chateaubriand. Esse trabalho permitiu que ele tivesse acesso a revista do mesmo grupo, O Cruzeiro, onde começou com ilustrações para sua capa e mais tarde desenvolveu a coluna “As Garotas”, que começou em 1938 e manteve-se ininterruptamente até 1964 (JUNIOR, 2011, pag.51 e 90).
A partir desse momento, a vocação do ilustrador abriu portas para outras publicações importantes da época, como a capa desenvolvida para a revista “Cidade Maravilhosa”, em 1936.

Ele ainda contribuiu com ilustrações para as revistas “Esquire” (Estados Unidos da America), em 1940, e as revistas “Tricô e Crochê”, em 1951, e “Manequim” para assuntos de noiva e carnaval, em 1974. Além de “O Jornal”, que contou com seus desenhos para sua coluna “Suplemento Feminino”, entre 1963 a 1965. 1
As ilustrações para livros também foram frequentes. Seus trabalhos aprecemem “Primeira Leitura”, de Luiz Gonzaga Jr. (1939), “O Mystério do Castelo Cor de Rosa” (1939), “Chapeuzinho Vermelho” (1940), “A Estrela Azul”, de Murilo Araújo

1Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378586/alceu-penna> Acessado em
11/04/2016.
10
(1940), “Detalhes de Elegância e Beleza”, de Elza Marzulo (1948), capa do livro
“Gente Miúda”, de Albano Paulo de Paula (1948) e ilustrações para “ABC das Mães”,de Odilon Andrade (1969).2
De 1946 a 1952

Alceu trabalhou na execução de uma série de calendário para a empresa Moinhos Santista, onde desenhou garotas com uma sensualidadealém de sua época. Desenvolveu também cartazes e propagandas para muitas marcas, como Cigarros Odalisca e Casa Levy (ambas em 1939).3
O ilustrador era decidido a mudar-se para os Estados Unidos e o êxito da coluna As Garotas não abalou essa decisão. Convenceu seu chefe e amigo Acioly Neto a enviá-lo como correspondente da revista O CRUZEIRO para cobrir a Feira Mundial de Nova York. (JUNIOR, 2011, pag. 96)
Nas décadas de 1950, 1960 e 1970 desenvolveu figurinos e cenários para diversos shows e espetáculos teatrais.

Em 1954 criou uma fantasia para Martha Rocha participar de um concurso de beleza e para Emília Corrêa de Lima concorrer à Miss Brasil 1955. Em 1939, Alceu ainda teve a oportunidade de recriar o figurino de Carmem Miranda (JUNIOR, 2011, pag.102). Seus trabalhos de fantasias e figurinos lhe renderam alguns prêmios.4
A contribuição de Alceu Penna para os figurinos da Companhia Rhodia começou em 1962 e durou até 1975 e incluía desenhos para o caderno de orientação de moda da marca e contribuições para os desfiles. Ele se dedicou tanto a este trabalho que teve que deixar a coluna “As Garotas” para cumprir seus compromissos com a Companhia (JUNIOR, 2011, pag. 96 e 256).
Apesar de Alceu Penna ter ganhado tamanha notoriedade após anos de variados trabalhos, ele nunca se esqueceu da verdadeira essência de seu trabalho: a arte. Muitas noivas subiram ao altar com criações dele, sem que cobrasse um centavo, apenas pela satisfação vê-las felizes 5.

Dentre todas as suas realizações a que mais se destacou foi a coluna “As Garotas”, na revista O CRUZEIRO. A partir dessas publicações, ele conseguiu transmitir seus conhecimentos de moda, que acabaram por refletir no comportamento das mulheres da época.

2Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378586/alceu-penna> Acessado em
11/04/2016.
3Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa378586/alceu-penna> Acessado em
11/04/2016.
4Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832010000100009&script=sci_arttext>
Acessado em 09/04/2016.
5Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832010000100009&script=sci_arttext>
Acessado em 09/04/2016
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https://www3.faced.br/wp-content/uploads/2017/02/AN%C3%81LISE-DAS-ILUSTRA%C3%87%C3%95ES-DE-ALCEU-PENNA-NA-REVISTA-%E2%80%9CO-CRUZEIRO%E2%80%9D-COMO-REFERENCIA-DE-MODA-NA-DECADA-DE-1950.pdf

Esboços sobre a trajetória de Alceu Penna nos Diários Associados: Moda, Corpo e Identidades

Sketches about the Alceu Penna’s tragetory in Diários Associados: fashion, body and identities.
JAQUELINE MORAES DE ALMEIDA¹

Alceu de Paula Penna nasceu em 1915, na cidade de Curvelo, MinasGerais. Foi um importante colaborador nas revistas dos Diários Associados. No semanário O Cruzeiro, Alceu ganhou destaque pela coluna de humor “As Garotas”, que circulou de forma ininterrupta entre os anos de 1938 e 1964. Já no mensário A Cigarra – revista lançada em 1914 por Gelásio Pimenta e adquirida por Assis Chateaubriand na primeira metade da década de 1930 –Pennafoi reconhecido por seu trabalho junto ao suplemento “A Cigarra Feminina”, dirigido pela jornalista Helena Ferraz de Abreu. No segmento, foi responsável pelas ilustrações das seções “Elegância e beleza”, assinada por Elza Marzullo; “Mocinha”, de Tia Marta;
“O marido de madame”, HQ escrita por Álvaro Armando; entre outras. Diante dos programas relacionados à preservação de uma identidade feminina, divulgados pela imprensa, refletiremos sobre a importância dos trabalhos desenvolvidos pelo artista.

Palavras-chave
Cultura Visual. Imprensa. Gênero. Alceu Penna. Moda.
Abstract
Alceu de Paula Penna was born in 1915 at Curvelo, Minas Gerais. He was an important contributor in Diários Associados magazines. In a weekly O Cruzeiro, Alceu gained prominence for his work “As Garotas”, a column of humor that circulated continuously between 1938 and 1964. In a monthly publication A Cigarra, magazine launched in 1914 by Gelásio Pimenta and get by Assis Chateaubriand in the first half of 1930’s,he was acknowledged by his works with the supplement “A Cigarra Feminina”, directed by the journalist Helena Ferraz de Abreu. In that segment, he was responsible for the illustrations of sections “Elegância e beleza”, signed by Elza Marzullo; “Mocinha”, by Tia Marta; “O marido de madame”, comics written by Álvaro Armando; etc. Before programs related to preservation of a female identity, published by the press, we will reflect about na importance of works developed by the artist.

Kewords
Visual Culture. Press. Gender. Alceu Penna. Fashion.
___________________________________
¹ Mestranda do Departamento de História da UNICAMP
E-mail: [email protected]

http://revistas.utfpr.edu.br/ap/index.php/iconica/article/view/24

Melindrosas e Garotas: representações de feminilidades nos traços de J. Carlos (1922-1930) e Alceu Penna (1938-1946)

Citação: MANNALA, Thaís.

Melindrosas e garotas: representações de feminilidades nos traços de J. Carlos (1922-1930) e Alceu Penna (1938-1946). 2015. 155 f.

Dissertação (Mestrado em Tecnologia)

– Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2015.

Resumo:

No presente trabalho serão analisadas representações de feminilidades em dois periódicos distintos: as Melindrosas na revista Para Todos… e a coluna Garotas na revista O Cruzeiro. Os recortes compreendem os anos de 1922 a 1930 para as Melindrosas e de 1938 a 1946 para as Garotas, privilegiando uma sequência entre décadas subsequentes, de modo a entender como as representações de feminilidades se modificaram ou se mantiveram. Interessa também investigar de que maneira o humor e a visualidade contribuíram para normatizar papéis e relações entre gênero, em conjunto com políticas públicas. As revistas visavam trazer a identificação com discursos hierarquizantes, atuando como pedagogia de gênero. Contudo, percebe-se que o humor buscou, nas fissuras das representações, a dupla moral, na qual as mulheres negociavam espaços de atuação e liberdade. Tanto Melindrosas quanto Garotas possuíam táticas de convencimento e de sedução que as levaram a realizar desejos e a conquistar alguns de seus objetivos. Elas questionaram e enfatizaram as contradições e tensões das respectivas décadas. Por vezes, indicavam pretextos para pensar nas mudanças sociais, de comportamentos e no modo como os homens se colocavam neste quadro.

Abstract:

In the present work femininity representations will be analyzed in two separate journals: the Flappers in the magazine Para Todos… and the Garotas column in the magazine O Cruzeiro. The cuts include the period from 1922 to 1930 for the Flappers and 1938-1946 for Garotas, favoring to a sequence of subsequent decades, in order to understand how representations of femininity have changed or remained. We also want to investigate how the mood and visuality contributed to standardize roles and relationships between gender, together with public policy. Magazines aimed to bring identification with hierarchized speeches, acting as gender pedagogy. However, we notice that humor sought in the fissures of the representations, the double standard, in which women were negotiated spaces of action and freedom. Both the Flappers and the Garotas used tactics to convince and seduction that led them to grant wishes and achieve some of their goals. They questioned and emphasized the contradictions and tensions of their respective decades. Sometimes indicated pretexts to think about the social changes of behavior and how men were placed in this board.
Leia mais:  

http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/1187

O Cruzeiro e as Garotas

Autoras: Carla Bassanezi* Leslye Bombonatto Ursini**

No Brasil da década de 50, a revista O Cruzeiro se destacava como um dos meios de comunicação mais importantes da época.1 Primeiro lugar entre as revistas no IBOPE durante toda a década, presente nos lares de classe média urbana e lida por toda a família – reproduzindo e construindo valores –

O Cruzeiro trazia suas versões e propostas sobre a juventude e os significados de gênero de seu tempo. Nesta revista, a juventude geralmente aparecia em matérias e artigos amenos tais como cobertura de bailes e de festas escolares, crônicas sobre a diversão nas praias, eventos esportivos, concursos de beleza e fotos de modelos (moças sedutoras, mas bem comportadas), atividades de rapazes atléticos (cadetes, estudantes brasileiros e americanos), e entrevistas com garotas bonitas e educadas (geralmente de elite). Reportagens sobre jovens rapazes em atitudes de protesto (contra aumentos nas tarifas de bonde, contra arbitrariedades na Faculdade de Direito etc), apesar de bem raras, também tinham um certo espaço na revista. A ideia da “juventude-problema”, amoral, sujeita a vícios, radicalmente rebelde, assustadora, praticamente não aparecia nas páginas de O Cruzeiro. Uma exceção foram as matérias sobre o “caso Aída Curi” (ago.- set. 1958). Antes deste episódio, a expressão “juventude transviada” havia sido usada referindo-se a * Mestre em História Social pela USP, doutoranda da área de Família e Gênero – UNICAMP. ** Mestranda em Antropologia Social – UNICAMP. 1 Em seu auge nos anos 50, O Cruzeiro chegou a uma tiragem de setecentos mil exemplares incluindo os duzentos e cinqüenta mil que iam para outros países como Argentina e Portugal. O cruzeiro e as garotas 244 meninos pretinhos favelados que desceram do morro para fazer pequenos furtos e ao personagem de James Dean, consagrado pelo cinema. Com a atenção voltada para a história da morte de Aída Curi, o termo “juventude transviada” passou a referir-se a certos tipos de “delinquencia” cometidas por jovens de classe média e alta (e mesmo uma predisposição para tal) propiciada pela má educação, falta de religiosidade, moral duvidosa e pela convivência com bebidas, drogas e más companhias. A cobertura d’A morte trágica da estudante Aída Curi, vítima inocente da sanha criminosa de jovens delinquentes de Copacabana (que quiseram violentá-la) não foi completa ou detalhada (esta tarefa cabia aos jornais e aos rádios), mas nos revela alguns aspectos significativos dos valores e práticas da época: – a virgindade como uma garantia de pureza, inexperiência e honra de uma jovem (a ser defendida com a vida se preciso fosse) e prova definitiva de que a moça merecia respeito, consideração e justiça; – a preocupação da Igreja católica e dos setores mais conservadores, incluindo articulistas da revista, em fazer deste caso um baluarte da luta contra os comportamentos considerados rebeldes de certos jovens (meninos e meninas que bebem cuba-libre, freqüentam o “Snack Bar” em Copacabana, usam blusa vermelha e blue jeans, mentem para os pais, cabulam aula, não pensam no futuro e não têm base moral para construir um lar). A força de uma história trágica como esta, tomada como exemplo e incorporada ao discurso disciplinar das jovens da época (nas famílias, nas escolas, nas igrejas), permaneceu na memória de muitos contemporâneos até hoje.

Leia mais: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/1770

Alceu Penna e a construção de um estilo Brasileiro: modas e figurinos*

Maria Claudia Bonadio; Maria Eduarda Araujo Guimarães

Centro Universitário Senac – Brasil

RESUMO

Neste estudo, observamos a importância do trabalho do artista gráfico Alceu Penna (1915-1980), através da análise de reportagens, ilustrações e textos por ele criados para a seção de moda da revista O Cruzeiro, entre 1934-1947, e de sua provável colaboração nos figurinos de Carmen Miranda. Notamos como, ao apresentar de forma muitas vezes crítica as últimas novidades da moda internacional e esboçar – a partir da criação de fantasias para o carnaval – uma “visualidade brasileira”, demonstra preocupação com a “criação” de um estilo brasileiro na moda, calcado nos ideais identitários propostos pelo Estado Novo. Consideramos, ainda, como sua experiência em olhar o Brasil a partir dos Estados Unidos e das imagens de “brasilidade” propostas por Hollywood são relevantes nesse processo.

Palavras-chave: Alceu Penna, estilo, identidade, moda.

ABSTRACT

In this study we observed the important work of graphic artist Alceu Penna (1915-1980) through analysis of reports, illustrations and texts created by him for the section of the fashion magazine O Cruzeiro between 1939-1947, and its probable collaboration in the development of costumes for Carmen Miranda, noting how, in presenting so many critical times, the latest international fashion and draw from the creation of costumes for the Carnival, a “Brazilian visuality” demonstrates concern for the “creation” of a Brazilian style in fashion identity based on ideas proposed by the Estado Novo. Noticed yet, as his experience in looking at Brazil from the United States and the images of “Brazil” proposed by Hollywood are relevant in this process.

Keywords: Alceu Penna, fashion, identity, style.

 

Leia mais: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832010000100009

O artista gráfico Alceu Penna na Revista O Cruzeiro: apropriações e ressignificações da moda européia e a representação da mulher (1940-1950)

The graphic artist Alceu Penna in the magazine O Cruzeiro: appropriation and reinterpretation of European fashion and the representation of woman (1940-1950)

Claudia Schemes, Denise Castilhos de Araujo

Resumo

Este artigo procura realizar algumas reflexões acerca do trabalho do artista gráfico Alceu Penna e sua colaboração na revista O Cruzeiro, nas sessões Garotas do Alceu e Moda, nos anos 1940 e 1950. Buscou-se observar de que forma o artista ressignificou a moda produzida na Europa, através de seus desenhos, bem como verificar como a mulher brasileira foi representada no período pelas produções de Penna. Podem-se tomar as produções do artista como objetos de análise, pois são representativas dos períodos históricos nos quais foram elaborados, uma vez que se tornam formas simbólicas, considerando-se como referencial teórico-metodológico a Hermenêutica da Profundidade, de J.B. Thompson. Palavras-chave Alceu Penna; Revista O Cruzeiro; Mulher; Moda.

Abstract

This article tries to make some reflections about the work of graphic artist Alceu Penna and his collaboration in the magazine O Cruzeiro, in sessions of Alceu Penna and Fashion in the years 1940 and 1950. We attempted to observe how the artist re-signified the fashion produced in Europe, through his drawings, as well as verify the Brazilian woman was represented during the productions of Penna. It´s possible to take the productions of the artist as objects of analysis because they are representative of historical periods in which they were made since become symbolic forms, given as a theoretical and methodological hermeneutics of depth, JB Thompson. Keywords Alceu Penna; O Cruzeiro Magazine; Woman; Fashion.

1. Introdução

Alceu de Paula Penna (1915-1980) nasceu em Curvelo, pequena cidade em Minas Gerais, e desde criança demonstrou talento para o desenho ingressando na Escola de Arquitetura no Rio de Janeiro e mais tarde no curso de Belas Artes, que era sua verdadeira vocação. Iniciou seu trabalho de ilustrador no suplemento infantil de O Jornal, de Assis Chateaubriand, em 1932 e logo em seguida se tornou colaborador da revista O Cruzeiro (1928-1983), semanário de grande circulação do mesmo proprietário e um dos mais importantes do país. Esta revista ilustrada possuía uma tiragem de 50 mil exemplares e foi a primeira a circular nacionalmente. Trabalhou, também, como ilustrador e desenhista de histórias em quadrinhos de O Globo Juvenil e na revista A Cigarra. Nesse mesmo período e nos anos seguintes Alceu trabalhou no Cassino da Urca, onde ilustrou cartazes, cenários para shows, figurinos, decorações e fantasias para bailes de carnaval. Passou a participar de diversos concursos de fantasia e ganhou vários prêmios, além de produzir alguns trabalhos para publicidade. No ano de 1938, quando já havia abandonado a faculdade de Belas Artes, criou para a revista O Cruzeiro a coluna Garotas do Alceu, inspiradas nas pin-ups americanas. Essas personagens eram a “expressão da vida moderna” (NETTO, 1998, p.125) e, segundo Penna (2010) o traço que as caracterizava estava no limite entre o sensual e o lúdico. Com essas personagens, segundo Gontijo (1987, p.74), “o artista marcou época com a elegância e atualidade de seu traço, influenciou todos os demais desenhistas de moda que o seguiram e ditou um padrão estético e de comportamento para as jovens de sua época”.

2. Metodologia de análise – Hermenêutica da Profundidade

A fim de verificarmos a relação entre moda, representação da mulher e a produção gráfica de Pena, será realizada a análise de algumas imagens selecionadas da produção do artista, publicadas na Revista O Cruzeiro, a qual se dará através do uso da Hermenêutica de Profundidade de Thompson1 (2002), uma vez que os textos a serem discutidos podem ser caracterizados como fenômenos culturais, que, para este teórico, constituem-se em ações, objetos e expressões significativas, as quais o autor passa a nomear por “formas simbólicas”.

Para Thompson: Enquanto formas simbólicas, os fenômenos culturais são significativos assim para os atores como para os analistas. São fenômenos rotineiramente interpretados pelos atores no curso de suas vidas diárias e que requerem a interpretação pelos analistas que buscam compreender as características significantes da vida social (THOMPSON, 2002, p.181).

Assim, diante dessa consideração, serão utilizadas as três etapas sugeridas por este autor, ou seja, inicialmente, a análise sócio-histórica, a seguir uma 1O termo Hermenêutica de Profundidade será, eventualmente, substituído por HP nesta pesquisa. 59Cultura Visual: Salvador, N0 15, Maio/2011 análise formal ou discursiva e, finalmente, a interpretação/reinterpretação do texto observado. Para o autor, há a necessidade de uma análise que explore as várias facetas de uma mesma produção simbólica, pois não é possível fazer-se a análise de um aspecto somente, porque o objeto trará consigo elementos pertencentes ao momento de sua produção, os quais criam significação, além da possibilidade do próprio leitor estabelecer a sua, a partir dos elementos disponibilizados pelo autor da “forma simbólica”. A primeira fase sugerida pelo autor é a análise sócio-histórica, porque, segundo Thompson (2002), as formas simbólicas, como os desenhos criados por Penna, são produzidas, transmitidas e recebidas em condições sociais e históricas específicas, ou seja, as produções refletem as situações espaço-temporais, seus campos de interação, sua ideologia, para legitimação da análise. Esse processo passa, em um primeiro momento, pela análise das situações espaço-temporais em que as obras são produzidas e recebidas. Segundo Thompson (2002), a HP reforça o fato de que os indivíduos estão vinculados em um mundo social, em tradições históricas e que são parte da história, tanto sua racionalidade, quanto sua ideologia. Suas construções estão baseadas em construções pré-existentes, ou seja, ao que veio antes, até mesmo a fim de reconhecer o que é novo, em oposição ao já visto. E, para este autor, é a análise que deve recair sobre este importante aspecto, conferindo legitimidade à própria História. O autor menciona, também, a necessidade de serem observados os campos de interação, que são espaços de posições e conjuntos de trajetórias, que determinam as relações entre pessoas e algumas das oportunidades acessíveis a elas, consideradas por Thompson como capital, regras, convenções, esquemas flexíveis, que é o conhecimento. Outro nível da análise refere-se às institui- ções sociais, que são conjuntos que demonstram certa estabilidade de regras e recursos, conjuntamente com as relações sociais estabelecidas por essas instituições e, assim, criam a possibilidade de observar a estrutura social, determinando as características – assimetrias, diferenças e divisões.

Outro aspecto relevante a ser analisado é o formal ou discursivo, no qual o pesquisador pode levar em consideração uma análise que perpasse pelos campos da conversação, da sintaxe, dos elementos narrativos e argumentativos. A observação dos aspectos mencionados “[…] pode ajudar a realçar algumas das maneiras como o significado é construído dentro das formas quotidianas do discurso” (THOMPSON, 2002, p.373).

Finalmente, o último nível de análise apresentado por Thompson é o da interpretação/reinterpretação, que sugere a possibilidade, a partir da observação dos resultados das duas fases anteriores, “um movimento novo do pensamento”, o desvelamento de novos significados da produção simbólica. Segundo o autor da HP: “Os métodos podem ajudar o analista a ver a forma simbólica 60 de uma maneira nova, em relação aos contextos de sua produção e recepção à luz dos padrões e efeitos que a constituem” (THOMPSON, 2002, p. 375). Segundo o próprio autor, a interpretação não se esgota em si mesma, porque ela transcende para aquilo que ele chama como reinterpretação, uma vez que o objeto já foi interpretado em um momento anterior, até mesmo pelo próprio produtor. Thompson menciona ainda no seu método de análise a possibilidade da verificação de relações de dominação, dentro do contexto de produção das formas simbólicas, especificando que essas relações baseiam-se principalmente em divisões de classe, gênero, etnia e estado-nação, fazendo parte das diferenças existentes nas instituições sociais e nos campos de interação. O autor sugere ainda que essas relações de dominação possam ser mantidas pelas formas simbólicas, em situações específicas (THOMPSON, 2002).

3. Análise sócio-histórica e formal-discursiva

Para a elaboração deste artigo foram selecionados alguns textos de Alceu Penna, retirados da Revista O Cruzeiro, das décadas de 1940 e 1950, a fim de que se verifique o papel exercido pelo artista na ressignificação da moda produzida na Europa da década de 1950, bem como a representação da mulher dessa época pelo artista. Para tanto, buscou-se material em duas sessões da Revista O Cruzeiro: Moda e Garotas do Alceu.

A seção denominada As Garotas do Alceu difundia um novo comportamento para a mulher, não só na vida privada, mas também na pública. Elas foram inspiradas na mulher carioca, urbana e da classe média, grupo em ascensão que estava com suas possibilidades de consumo aumentadas. Além disso, nos anos 1950 os jovens assumiram um novo comportamento, com uma vida social mais intensa. Para Penna (2007), “[…] é bastante perceptível nos trajes das “Garotas”, que assim como as cariocas, identificaram-se com o estilo casual wear contribuindo para a adaptação da estética e de comportamento das leitoras […]”.

Essas personagens vinham ao encontro de uma sociedade que estava se industrializando e urbanizando cada vez mais, que estava assumindo uma identidade moderna.

As Garotas representavam o contraponto da mulher bem comportada da época, eram mais descontraídas, alegres, ousadas e independentes, embora não representassem uma ruptura total com a ideia da mulher-mãe e esposa.

Podemos perceber esse conflito entre a mulher-moderna e a mulher mãe-esposa, em vários momentos, como no texto intitulado “Garota, você quer me levar no quadro?” de A. Ladino que fazia parceria com Alceu Penna na seção “As Garotas do Alceu”:

61Cultura Visual: Salvador, N0 15, Maio/2011

Entre as distrações mais inocentes das garotas a bicicleta tem lugar de relevo. Montadas numa bicicleta, as garotas formam um quadro sempre pitoresco. Principalmente quando encontram um gaiato para se encarapitar no quadro de sua máquina. O que vale é que nunca falta o freio. Na bicicleta, bem entendido […] (Revista O Cruzeiro, 17.04.1948, p.23)

A garota aí representada era liberal o bastante para se “encarapitar no quadro” da bicicleta de algum rapaz e a alusão à “falta de freio“ demonstra a malícia através da linguagem com duplo sentido. Em outro momento, entretanto, o modelo mãe de família é expresso explicitamente, como no artigo “Oração das garotas a Santo Antônio”:

Meu Santo Antônio querido, Aos seus pés venho rezar Com fervor mais decidido, Com devoção exemplar, Mas vou fazer-lhe um pedido que você vai desculpar, Eu preciso de um marido Eu preciso ma casar! […] (Revista O Cruzeiro,20/06/1948, p.28)

Um fato importante na carreira de Alceu Penna foi a sua tentativa de fazer carreira nos Estados Unidos, anos depois de criadas as Garotas. Naquele país, o desenhista assumiu uma nova função: a de consultor informal de moda de Carmen Miranda que fazia sucesso em terras americanas. Mesmo sua estada durando apenas dois anos, Alceu voltou ao Brasil como um grande difusor de moda, costumes e hábitos norte-americanos entre a juventude brasileira.

Sem abandonar a influência francesa da moda até o começo da guerra, o ilustrador não apenas dita formas de vestir e de comportamento como populariza um biótipo específico de beleza: o da mulher de cintura fina, quadris reduzidos, pescoço longo e afinado, nariz afilado e olhos puxados. […] Para ele, suas personagens materializam o sonho da mulher ideal: bonitas, atrevidas, inteligentes […] Ou seja,“As Garotas” significam a expressão da vida moderna. Por tudo isso, quantas mulheres não se vestem, gesticulam ou “pensam” como as garotas do Alceu? (JUNIOR, 2004, p.81,82).

Alceu Penna, entretanto, não foi apenas ilustrador, mas, também, criador de moda. Como repórter de moda e comportamento, além de grande apreciador do vestuário feminino, ele criou muitos modelos que eram copiados em larga escala pela população leitora das revistas em que trabalhava. É importante salientar que os desenhos d’As Garotas sempre vinham acompanhados de um pequeno texto.

Portanto, a partir dos anos 1940 Alceu se tornou uma referência na moda nacional, principalmente através das fantasias de carnaval criadas por ele e desenhos de roupas de gala, festa ou casamento. As famílias ricas do Rio de Janeiro não prescindiam de seus modelos para as festas mais luxuosas, modelos esses que não eram cobrados. 62

Alceu não era apenas um divulgador da moda, mas um pesquisador que buscava informações e detalhava os tecidos, as cores e as tendências para cada estação. Segundo Gonçalo Junior, nesse ambiente de glamour, o nome de Alceu circula como uma grife e seu estilo de desenho se dissemina formando quase que uma escola.

Com a Segunda Guerra Mundial e a ocupação da França as informações relacionadas à moda deixam de chegar ao Brasil, o que passa a ser um problema para a revista O Cruzeiro, que tinha na moda francesa suas referências. Alceu, então, é convidado pelo editor da revista e assumir as páginas de moda buscando referências principalmente nos Estados Unidos que ainda não estavam na guerra.

A partir de 1945, Alceu torna-se parceiro, durante sete anos, da S.A. Moinho Santista Indústrias Gerais, indústria de tecidos que elaborando folhinhas para serem distribuídas pelo país, além de lhe ter sido confiada toda a produção da revista Tricô e Crochê, onde ele escolhe as roupas que serão mostradas pela revista bem como as modelos e fotógrafos.

Alceu, aos poucos, deixou de lado a inspiração nos modelos norte-americanos e passou a criar modelos próprios mais voltados ao gosto da brasileira, especialmente para bailes de carnaval de clubes de elite e festas juninas.

No final da guerra, Alceu fez sua primeira viagem à Europa, com recursos pró- prios, como correspondente de moda em Paris da revista O Cruzeiro. Lá, ele entrou em contato com o mundo da moda, principalmente através de desfiles, mas chegou à conclusão de que a mulher brasileira tinha um charme único e inigualável, mas, mesmo assim, acreditava que não havia ninguém no Brasil que tinha prestígio suficiente para criar algo diferente do que era feito em Paris, principalmente por seu figurinista preferido: Christian Dior.

Nos anos 50, de volta ao Brasil, Alceu, que já era referência para a moda nacional, se torna um de seus mais importantes especialistas e críticos, escrevendo vários editoriais de moda.

  

A Figura 1, retirada da sessão de moda da Revista O Cruzeiro, revela a participação do artista Alceu Penna não só na criação das Garotas do Alceu, mas na elaboração de textos e desenhos mostrando modelos com as tendências da moda da época. Esse fato permite afirmar que o artista mantinha estreita relação com a moda, pois caracteriza os modelos ao apresentá-los às leitoras. Além disso, Penna (2010) afirma que “a coluna ilustrada levou milhares de leitoras a copiarem a moda, os gestos, penteados, e até mesmo a maquiagem das ‘garotas’(PENNA, 2010, p.20). Sabe-se, também, que Alceu serviu como consultor de Carmem Miranda, no que diz respeito à elaboração de seus figurinos (PENNA, 2010). 63Cultura Visual: Salvador, N0 15, Maio/2011

Na imagem mencionada são apresentados quatro modelos com roupas distintas, mas tendo em comum o debrun (galão), ou seja, a presença de fitas para arrematarem decotes, barras, mangas, bem como para elaborar certos desenhos. São trajes compostos por casacos, e boleros, saias ou vestidos; as modelos ainda usam chapéus e luvas. Ao lado de cada fotografia vê-se a presença de textos que explicam os visuais, bem como nomeiam a estilista – Nina Ricci. Os parágrafos mencionam, também, as cores das roupas, e, ao final, há juízos de valor: “bonito modelo”, “muito elegante”, “bonitos efeitos”.

Percebe-se, então, que Penna é autorizado pela revista para opinar a respeito dos modelos expostos na sessão, ele coloca-se como um perito, o qual traduz e opina a respeito dos modelos expostos, pois revela à leitora o material com que a roupa é feita, para, em seguida, dizer a essa leitora seu julgamento a respeito do que vê. Tal julgamento, talvez se revele como um aval para as leitoras usarem as roupas apresentadas, pois tinham em Penna a confiança no seu conhecimento e proximidade com a moda.

Para Penna, A coluna, mesmo ostentando as linhas da moda dos EUA, também privilegiava o bom gosto francês. Essa moda, diferentemente da norte-americana, seguiu linhas distintas de elegância. A alternância de influências será uma característica constante nos anos de vigência da coluna (PENNA, 2010, p. 76).

Com suas apreciações, o artista reforça, para suas leitoras, a classe e o requinte que os modelos franceses têm, persuadindo-as do fato. Observa-se, então, na imagem selecionada, uma mulher recatada, esguia, a qual tem grande parte de seu corpo coberto, pois usa casaco, saia, luvas e chapéu; ou seja, estão à mostra somente as pernas, mas dos joelhos para baixo. Esse figurino pode, conotativamente, significar o decoro que se esperava que as mulheres da época mantivessem.

Ainda vê-se na época uma mulher muito voltada para os afazeres do lar, para a família, podendo-se afirmar que a roupa representaria esse aspecto, mostrando a necessidade de o corpo feminino não ser exposto de forma exagerada, para a época. Por outro lado, a mulher, na década de 1950, passou a apresentar maior participação no mercado de trabalho, principalmente no comércio, em escritórios ou em serviços públicos, como professoras, enfermeiras, funcionárias burocráticas, médicas, assistentes sociais, vendedoras; e, com isso, houve a exigência de nível de escolaridade maior, provocando mudanças no status social dessas mulheres.

Por outro lado, as mulheres continuavam sendo vistas como donas de casa e Figura 1- Debruns da Revista O Cruzeiro. 64 mães, pois se imaginava que indo trabalhar fora de casa, essa mulher deixaria de fazer seus afazeres de maneira que se esperava (BASSANEZI, 2009).

Diante dessa nova realidade (trabalho fora de casa), as revistas femininas passaram a enfatizar a necessidade das mulheres manterem boa aparência, boa reputação e continuar revelando-se femininas (BASSANEZI,2009). As tendências de moda, então, são sugeridas pelas revistas femininas, como ilustrado pela Figura 1.

Outra sessão da revista que tinha a participação de Alceu chamava-se Garotas do Alceu, na qual o artista apresentava seus desenhos, normalmente combinando moda e comportamento, com textos elaborados por outros profissionais, conforme ilustra a Figura 2.

Na Figura 2, vê-se que Penna reafirma a presença dos debruns nas roupas femininas, sugerindo na sessão de moda da revista da mesma edição. Nessa imagem, seu ponto de vista é reforçado, pois seus desenhos revelam a maneira como o artista percebe a moda, especificadamente os debruns, os modelos e os comprimentos das saias.

Ele apresenta seis desenhos, três em cada página da revista. Na página da esquerda, Alceu expõe um modelo de casaco branco até a altura dos joelhos, um conjunto de vestido e bolero e um tailleur (casaco e saia). As cores utilizadas pelo artista são branco, azul e vermelho com preto. Nos três modelos as mulheres usam luvas (revelando-se acessórios para ocasiões formais) e duas delas vestem, além das luvas, chapéus e sapatos de salto alto. Na página da direita, outras três figuras femininas, também vestindo conjuntos de saia e casaco, chapéus e salto alto. Vê-se a feminilidade expressa através de peças de roupa como as saias e os vestidos; apesar de a calça já fazer parte do figurino feminino, ela não é apresentada no editorial.

Os desenhos, então, reiteram o perfil feminino esperado na época, mulheres esguias, com figurino bem cuidado, cabelos curtos e arrumados. Para Bassanezi (2009), a mulher da década de 1950 ainda mantinha-se dentro de uma moral sexual forte, e o seu trabalho era subsidiário ao trabalho masculino, que se mantinha como o “chefe da família”. Além disso, em virtude do final da guerra, mesmo as brasileiras sofreram a influência de campanhas publicitárias estrangeiras incentivando a volta das mulheres ao lar, a fim de cuidar da casa, do marido e dos filhos.

Essas mulheres também deveriam apresentar características que se pensavam intrínsecas a elas, como o instinto materno, a pureza, a resignação e a doçura. (BASSANEZI, 2009). Características que podem ser identificadas nos desenhos de Penna, através das cores (tons pastel: rosa, azul; e do branco), e dos cortes das roupas. Apesar de se aproximarem dos corpos, são modelos que não evidenciam as formas femininas, reiterando, assim, a necessidade de não revelar essa mulher, apenas vesti-la com elegância e decoro. 65Cultura Visual: Salvador, N0 15, Maio/2011

Apesar de serem ilustrações, observa-se a preocupação em dar movimento às mulheres da ilustração, indicando, talvez, o próprio movimento que as mulheres estavam iniciando, saindo de casa e indo para o espaço público. Além disso, as roupas que as mulheres usam condizem com esse movimento, são trajes mais curtos, permitindo livre movimentação por parte das mulheres, ou seja, elas precisavam de roupas que permitissem não só a expressão de determinadas características (doçura, pureza,…), como deveriam estar prontas para as atividades que fazem parte do dia a dia feminino. Segundo Penna (2010),

O corpo e a moda das Garotas do Alceu, dotadas de poder comunicativo, evidenciam, em parte, a realidade vivenciada pelas moças contemporâ- neas à coluna, que viviam sob o comando de uma sociedade patriarcal. Mesmo refletindo o universo das leitoras de O Cruzeiro, a coluna, ao mesmo tempo em que se aproxima dessa realidade, parece dar pistas de certos avanços em direção a uma situação menos conservadora para a mulher (PENNA, 2010, p.72).

A situação referida por Penna pode ser percebida na Figura 3, a qual apresenta mulheres preocupadas com a moda, ou seja, alguém que domina ou gostaria de dominar o código de vestir e, através dele, se apresenta à sociedade.

Na Figura 3 são apresentadas cinco mulheres, todas de vestidos, os quais são de modelos e de cores diferentes. É possível observar que quatro das cinco mulheres usam os sapatos nas cores dos vestidos. É importante observar que nesse desenho as mulheres revelam partes de seus corpos que antes não revelavam: os braços, o colo, as mãos. Isso pode evidenciar a proximidade com as mudanças que viriam ocorrer no final da década seguinte (movimento feminista, por exemplo).

Outro aspecto que merece destaque são as cores utilizadas nos desenhos, são vibrantes, fortes, diferenciando-se dos tons observados anteriormente. O texto que acompanha a figura fala que “[…] a moda é importante, já que as faz tão bonitas e tão felizes, os homens acabam por se render”. Relacionando-se imagem e texto, observa-se que a mulher, nesse momento, deve seduzir o homem, por seus dotes ou pelos vestidos que usa. Ou seja, há o reforço da necessidade da presença masculina na vida das mulheres, talvez, por isso, o revelar de algumas partes do corpo antes não tão expostas.

Na Figura 4 é apresentada a linha “diretório”, ou seja, a cintura alta, a qual, segundo texto que acompanha a imagem, é o novo decreto de Paris. Nos pará- grafos que acompanham as modelos há a descrição dos modelos, dos tecidos e das cores.

Figura 2 – A beleza dos debruns da Revista O Cruzeiro 66

O interessante nesta figura é atentar para as poses e o gestual das modelos, aspectos que reforçam a fragilidade, a delicadeza, a discrição que a mulher deveria expressar nesse período.

Para Bassanezi (2009, p. 612), “Ficava mal à reputação de uma jovem, por exemplo, usar roupas muito sensuais, sair com muitos rapazes diferentes ou ser vista em lugares escuros ou em situação que sugerisse intimidades com um homem”.

As fotos demonstram preocupação com essas mulheres, sendo elas modelos, deveriam ser consideradas o guia para as demais, ou seja, as leitoras. Elas (modelos) expressam ar de ingenuidade, até mesmo de infantilidade, são sorrisos contidos.

Além das expressões faciais contidas, observa-se que todas elas usam luvas, reforçando, mais uma vez, a formalidade, podendo significar o distanciamento que a mulher deveria manifestar.

4. Interpretação/Reinterpretação

Após a observação das imagens apresentadas, pode-se verificar que o artista plástico Alceu Penna demonstrou preocupação em revelar a mulher da época, reiterando os traços femininos desejados e sugeridos pela mídia (revistas femininas).

Por outro lado, ao observar as “Garotas do Alceu”, também é possível identificar elementos que destoam das características sociais desejadas para uma mulher das décadas de 40 e 50. As imagens do artista representam mulheres muito mais descontraídas, preocupadas com futilidades (os textos que acompanham as imagens mostram esse aspecto), as quais se valem da moda para revelarem sua beleza, jovialidade e descontração.

Os desenhos parecem representar uma mulher que viria na década seguinte, muito mais independente, despreocupada com as orientações que a sociedade impingia, revelando seus desejos, gostos, reforçando sua independência.

Pode-se ler as produções de Penna (editoriais de moda e Garotas do Alceu) como reflexos de uma sociedade em transformação, mas que mantinha ainda arraigados uma série de valores morais, os quais parecem ser mais presentes nas fotografias e menos reforçados nos desenhos do artista.

Enquanto a maioria das seções de moda veiculadas nas revistas nacionais nos anos 1940, atinha-se a apresentar as novidades da moda internacional, Alceu Figura 3 – As garotas dão aula de moda, Revista O Cruzeiro. 67Cultura Visual: Salvador, N0 15, Maio/2011 Penna foi além e passou, pouco a pouco, a delinear, através de seu trabalho nessa seção, as primeiras linhas de uma visualidade brasileira na moda e nas aparências. O ilustrador não se lançou imediatamente na elaboração de modelos inéditos e com a “cara do Brasil”, mas foi, pouco a pouco, abrindo algumas brechas para a discussão desse tema.

A partir da análise da vida de Alceu Penna, podemos concluir que este artista gráfico ressignificou a moda brasileira e pode ser considerado um dos construtores de uma incipiente identidade de moda nacional2.

Seu trabalho pode ser considerado um dos referenciais simbólicos que ajudaram a constituir uma identidade de moda no Brasil, pois segundo Crane (2006), para entendermos a construção de uma identidade através do vestu- ário, precisamos compreender como as roupas expressam significado, pois o vestuário é um instrumento de comunicação visual que pode subverter, ou pelo menos intervir num determinado grupo ou na maneira com que esse grupo se vê em relações aos outros. Podemos afirmar, portanto, que a moda no Brasil sempre existiu, mas a moda brasileira, não, ou, como diz Pollak (1992), um “sentido da imagem de si, para si e para outros.”

A moda brasileira, como não tinha uma representação própria, também não era percebida pelos outros. Penna criou essa ideia de pertencimento quando criou personagens que retratavam o estilo de vida brasileira e que tinha como cenário o Rio de Janeiro, cidade símbolo do país. A memória coletiva da sociedade brasileira, principalmente dos anos 1940 e 1950, foi marcada pelas Garotas do Alceu e seu estilo de vida.

Para Ziraldo (2007), Alceu fez há mais de cinquenta anos atrás, o que a televisão faz hoje, o que era um “trabalho quase impossível para um desenhista só, mesmo que, à época, significava para o Brasil o que a TV Globo […] significa nos tempos de agora.”

Nesse sentido, Alceu Penna foi um pioneiro, pois ele não apenas criou moda, como inovou com seus modelos, utilizando ou não elementos da nossa cultura, mas influenciou na atitude da mulher brasileira, procurando entendê-la no seu tempo e no seu espaço.

Foi suficientemente destemido, lançando um manifesto já em 1968 em que criticava a ideia da moda como um conceito desvinculado de uma realidade mais complexa e salientava a fundamental importância da moda se relacionar Figura 4 – Na linha diretório, Revista O Cruzeiro. 2 Segundo Pollak (1992, p.5), o sentimento de identidade, […] é o sentido da imagem de si, para si e para os outros. Isto é, a imagem que uma pessoa adquire ao longo da vida referente a ela própria, a imagem que ela constrói e apresenta aos outros e a si própria, para acreditar na sua própria representação, mas também para ser percebida da maneira como quer ser percebida pelos outros. 68 com a cultura, a arte e as transformações sociais, ou seja, com a sua contemporaneidade.

Alceu Penna acreditava que a identidade da moda brasileira não estava ligada apenas a seus aspectos culturais, exóticos e folclóricos, ou às “coisas do Brasil”, mas via a moda como um movimento dinâmico, ligado à mulher, ao corpo, à atitude, ao comportamento, à sociabilidade. Através de seu trabalho, ele procurou se diferenciar da moda europeia já fortemente solidificada e que servia de referência aos poucos criadores nacionais. O artista, para Bonadio (2010), esboçou uma “visualidade brasileira” e criou um “estilo brasileiro de moda”.

Referências BASSANEZI, C. Mulheres dos anos dourados. In: DEL PRIORE, M. (org.); BASSANEZI, C. (coord. textos). História das mulheres no Brasil. 9.ed.São Paulo: Contexto, 2009. BONADIO, M.C & GUIMARÃES, M.E.A.Alceu Penna e a construção de um estilo brasileiro: modas e figurinos. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 16, n. 33, p. 145-175, jan./jun. 2010. CRANE, D. A moda e seu papel social. Classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: Editora Senac, 2006. GONTIJO, S. 80 Anos de Moda no Brasil. São Paulo: Nova Fronteira, 1987. HALBWACHS, M. A memória coletiva. São Paulo: Vértice,1990. JUNIOR, G. Alceu Penna e as Garotas do Brasil. Moda e Imprensa-1933/1980. São Paulo: CLUQ, 2004. NETTO, Accioly. O império de papel: os bastidores de O Cruzeiro. Porto Alegre: Sulina, 1998. PENNA, G. O. Vamos garotas! Alceu Penna: moda, corpo e emancipação feminina (1938-1957). São Paulo: Annablume, Fapesp, 2010. _______. Os estilos de vida das “Garotas do Alceu”. Disponível em: Acessado em 05/03/2011 PENNA, A. Texto do manifesto, 1968. POLLAK, M. Memória e identidade social. Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol.5, n.10, 1992. SERPA, L. A máscara da modernidade – A mulher na revista O Cruzeiro (1928- 1945). Passo Fundo: UPF, 2003. THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. 6.ed.Petrópolis: Vozes, 2002. 69Cultura Visual: Salvador, N0 15, Maio/2011 ZIRALDO. Texto escrito para o catálogo da exposição As garotas do Alceu, realizada em julho de 1983 no Palácio das Artes em Belo Horizonte. Disponí- vel em: Acesso em 12/02/2011

Sobre as autoras

Claudia Schemes é mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP/SP) e doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Atua nos cursos de História e Design de Moda e Tecnologia e no grupo de pesquisa Cultura e Memória da Comunidade do Centro Universitário Feevale, em Novo Hamburgo. E.mail: [email protected] Denise Araujo possui Licenciatura Plena em Letras/Português pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1995), mestrado em Semiótica pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1997) e doutorado em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica (2003). Atualmente é professora titular do Centro Universitário Feevale, no Mestrado em Processos e Manifestações Culturais e nos cursos de Comunicação Social e Design. É membro da Comissão do Mestrado em Processos Culturais, representando o Linha Memória e Identidade. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em imagem, narrativas quadrinizadas, cultura e gênero, atuando principalmente nos seguintes temas: comunicação, gênero feminino, mídia, corpo e imagem.

E.mail: [email protected]

Espectros dos anos dourados: imagem, arte gráfica e civilidade na coluna Garotas da revista O Cruzeiro (1950–1964)

Autora:

Daniela Queiróz Campos

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós Graduação em História – PPGH

Espectros dos anos dourados:
imagem, arte gráfica e civilidade na
coluna Garotas da revista O Cruzeiro
(1950–1964)

Resumo
A presente dissertação pretende tecer considerações sobre a coluna Garotas (1938-1964) da revista O Cruzeiro (1928-1974) no período compreendido entre 1950 e 1964. Pretende, em especial, tecer suas tramas narrativas sob a questão da civilidade e da imagem na coluna estudada. A coluna, assinada pelo ilustrador e figurinista mineiro Alceu de Paula Penna, circulou em uma das revistas brasileiras mais emblemáticas de meados do século XX. Foram 2 páginas que ocuparam a revista semanal de Assis Chateaubriand por ininterruptos 28 anos, de 1938 até 1964. O presente estudo se propõe analisar como através da arte gráfica da coluna Garotas se viabiliza a circulação de normas e preceitos de civilidade para jovens mulheres consideradas urbanas, modernas e ousadas no Brasil das décadas de 1950 e 1960.
Palavras-chave: Revista, civilidade, imagem, arte gráfica

Abstract

This present thesis aims to present some considerations about the column
Garotas in the magazine O Cruzeiro, from 1950 to 1964. It focuses, specially, on developing its narrative threads about some key questions, such as civility and image, contained in the studied column. This column, signed by Alceu de Paula Pena, costume designer and illustrator from Minas Gerais (Brazil), circulated in one of the most emblematic Brazilian magazines of the 20th century. These 2 pages were printed on the weekly magazine of Assis Chateaubriand for uninterrupted 28 years, from 1938 to 1964. This study proposes to analyze how through the graphic art of the column Garotas was made possible the circulation of norms and models of civility and manner to young ladies considered urban, modern and bold during the decades of 1950 e 1960 in Brazil.
Key-words: magazine, civility, image, graphic art