1969 – STRAVAGANZA

 

Gal Costa a partir deste mês, teve contrato assinado com a América Fabril. Vai exibir-se na Fenit e num show por todo o Brasil. Atualmente, Gal é o sucesso, no Rio. Brevemente  se os prognósticos de seu empresário Guilherme Araújo se concretizarem – , irá tentar o mesmo na Europa e Estados Unidos. Guilherme está preparando terreno por lá. 

(1969, Revista A Cigarra, Marisa Alvarez Lima)

8 a 24 de agosto  

O maior show feito pela RHODIA foi um desfile comemorando 50 anos da empresa e apresentou na XII FENIT (Feira Nacional da Industria Têxtil) o show-desfile “Stravaganza” com Raul Cortez e Gal Costa, num cenário de circo idealizado por Cyro Del Nero. As apresentações antigamente eram realizadas no parque do Ibirapuera ate mudar para o Anhembi com 180 stands.

 “Estava em início de carreira. Ainda buscava a consolidação de meu nome junto ao público”, recorda-se Gal, em 2001.

Cortez era o mestre-de-cerimônias do evento, que tinha como pano de fundo o picadeiro de um circo. Ele era o responsável pela apresentação de todas as atrações, entre elas o show de Gal e desfiles de moda. Se nesse ano, Gal era quase uma estreante, hoje, o público a reconhece só pelo primeiro nome. 

 

 

 

Gal Costa conversa com Raul Cortez nos bastidores do show Stravaganza, em 1969. 

1969
Revista CLAUDIA
Ano IX
n° 95
Agosto

 

Gal Costa estrela do show-desfile Stravaganza, promovido pela Rhodia e Revista Claudia.

O espetáculo teve inspiração circense e levou para o palco leão, elefante e trapezistas. Gal Costa foi a estrela (não faltava música nas apresentações).

“Para mim, isto é um espetáculo-de-novidade. Eu nunca tinha participado de um showcomo esse” (Gal Costa em declaração dada à revista Claudia, nro. 95, 1969).


Sobre este mesmo desfile-show, há uma descrição na revista Claudia que nos revela o quanto estes desfiles eram diferentes, grandiosos, enfim, outro tipo de manifestação, que falava de arte, moda, poesia, música etc.: 

“Circo, circo por todos os lados…

O stand, projeto de Cyro del Nero, comporta 600 pessoas. Tem três picadeiros com palcos giratórios. Iluminação piroscópica, dragões que largam fumaça pela boca, paredes com espelhos mágicos alternados com painéis de Bernard Buffet e Picasso.

Tudo muito colorido. Tudo muito circense.

Alceu Penna bolou os figurinos femininos e Hélio Martinez os masculinos, para o grande desfile da Rhodia. Os manequins desfilarão individualmente enquanto Raul Cortez diz poemas de Drummond. Em seguida a Grande Parada, com todo o elenco. Aí começa o circo de verdade. Entre um quadro e outro, misturando-se a eles, as moças continuarão desfilando. E os motivos dos figurinos sempre inspirados em cada quadro apresentado”.

 

 
Gal aprende alegria com Piolin, Chicharrão, Cigarrito, Melinho, Bambolé, Xuxu, Potó e Tony
 
Gal de Palhaço – Foto: Joannis Hatiras

Esse palhaço abaixava a cabeça, a luz apagava puxava a peruca e era Gal Moda, a Gal Costa. 

http://caetanoendetalle.blogspot.com

Alceu Penna, estilista que vestiu Carmem Miranda, completa cem anos

GONÇALO JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se contar, ninguém acredita. Pode parecer exagero, mas, talvez, as trajetórias de Carmen Miranda, Nelson Rodrigues e Millôr Fernandes fossem diferentes se seus caminhos não tivessem cruzado com o do mineiro Alceu Penna. Cartunista e pioneiro da moda no Brasil, Alceu faria hoje 100 anos de idade –para a família, a data correta é 1º de janeiro. Sua história, pouco conhecida, lembra um daqueles personagens do cinema que foram testemunhas dos mais importantes eventos de seu tempo. A diferença é que ele estava lá mesmo. De verdade.

Nascido em Curvelo (MG), Alceu se mudou para o Rio de Janeiro em 1932, aos 17, e no mesmo ano, começou a fazer capas para a revista “O Cruzeiro”. Entre 1938 a 1964, Alceu Penna teve um papel importante nos costumes das mulheres brasileiras, com sua coluna “As Garotas”, publicada toda semana na revista.

 

 

Desenhos de Alceu Penna

Um anúncio de 1938, publicado nos jornais da rede Diários Associados (que editava também a revista), falava da novidade e de seu estilo: “As garotas são a expressão da vida moderna. Endiabradas e inquietas, elas serão apresentadas todas as semanas em ‘O Cruzeiro’ por Alceu Penna”.

A cada edição, ele trazia algum tema que ocupava de duas a quatro páginas da revista. Desde assuntos políticos a cinematográficos, esportivos etc. Quem seguia a moda, copiava as roupas –cuidadosamente feitas com as cores e tendências do momento– e as atitudes de “As Garotas”. O artista fazia ainda sugestões para penteados.

As cenas eram completadas com frases: “Nada existe de mais prático para verão do que os shorts, uma genial invenção ‘yankee’ que parece ser destinada exclusivamente ao nosso clima. Aqui vemos nada menos do que sete modelos encantadores. Alguns deles servem também para entrar n’água…”.

CARMEM MIRANDA

Antes desse sucesso todo, Alceu–um amante das histórias em quadrinhos– deu um jeito de colaborar com “O Globo Juvenil”. Era um tabloide que circulava três vezes por semana e fora criado por Roberto Marinho, em junho de 1937. Ali, propôs a um assistente do editor que adaptassem juntos clássicos da literatura para o suplemento.

O nome do assistente era Nelson Rodrigues, que teve, assim, uma de suas primeiras experiências de criação, antes de se tornar cronista, ficcionista e dramaturgo dos melhores.

A parceria rendeu bons frutos. Eles levaram para a linguagem dos gibis, entre outros, “Sonho de uma Noite de Verão”, de Shakespeare, “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, e “O Mágico de Oz”, que acabara de virar longa-metragem de sucesso.

Na virada dos anos 1930 para os 1940, Alceu viveu dois anos nos EUA, quase ao mesmo tempo em que sua amiga Carmen Miranda. Pretendia ser ilustrador e cartunista da revista “Esquire”, e conseguiu. Por mais de um ano, o brasileiro colaborou com cartuns na publicação.

Ele havia conhecido Carmen nos bastidores do Cassino da Urca. Algumas semanas antes de embarcar para a América, em 1939, Carmen deu uma entrevista a “O Cruzeiro” em sua casa, no Rio.

Quando o papo acabou, o desenhista fez uma série de sugestões para renovar o guarda-roupa da cantora. Adicionaria, segundo disse depois, “saias multicolores, os turbantes fantásticos e os sapatões de sola grossa”.

Em 1941, Alceu caiu de paraquedas em outro fato histórico importante: a vinda do produtor e animador Walt Disney ao Brasil, como parte da política de boa vizinhança dos EUA na América Latina durante a Segunda Guerra Mundial.

 

A legenda da foto de Alceu conversando com Disney antes da seção do filme “Fantasia”, publicada em “O Cruzeiro”, informava que ele fora encarregado pelo Itamarati de ser o tradutor de Disney nos dias em que ele passou no Rio de Janeiro.

MOCASSIM

Não fosse Alceu, quem sabe Millôr Fernandes teria se aposentado em outra profissão? Em 1937, Millôr tinha 13 anos e, por indicação de um tio, foi trabalhar em “O Cruzeiro” como ajudante gráfico.

Como havia muito trabalho –”O Cruzeiro” e os quadrinhos de “O Globo Juvenil” “”, Alceu chamou Millôr para que ele o ajudasse no acabamento das histórias em quadrinhos e da coluna “As Garotas”. Ao mesmo tempo, teria a oportunidade de aprender a desenhar, com dicas de esboço e arte-final.

“Passava algumas horas por dia, duas ou três vezes por semana, preenchendo o fundo dos seus desenhos”, lembrou Millôr, anos mais tarde. “Não foi muito tempo, mas foi tempo de encanto e medo. Você não imagina o pavor que eu tinha de errar tudo, inapelavelmente.”

Nesse convívio, Millôr viu nos pés de Alceu, pela primeira vez nada vida, um calçado elegante e revolucionário chamado mocassim. Millôr se lembraria do amigo “com uma educação (modos e maneiras) absolutamente esmerada e temperamento invejável. Uma qualidade nunca a desprezar: um homem belíssimo”. Para ele, a tônica de Alceu, no trabalho e na pessoa, estava na delicadeza.

ESTILISTA

Com dificuldades para importar material jornalístico da França durante a guerra, o editor de “O Cruzeiro” pediu que Alceu criasse modelos para as leitoras. Como estilista, assinou figurinos de famosas montagens do Cassino da Urca, do Rio, e do luxuoso Hotel e Cassino Quitandinha, de Petrópolis.

A partir de 1946, passaria seis meses por ano em Paris, de onde mandava as últimas tendências da moda. Alceu se tornou absoluto como referência na década de 1950, quando virou a principal atração da revista feminina “A Cigarra”. Noivas de todo Brasil, ricas e pobres, pediam-lhe desenhos de vestidos.

Ele atendia a todas. E jamais cobrou um centavo pelos modelos. Bastava-lhe a alegria de ver uma jovem subir ao altar com uma criação sua.

Seus figurinos, por anos, estamparam as capas da revista “Tricô e Crochet”, da fabricante de fios Moinho Santista.

Lojas de tecidos ofereciam a seus clientes folhinhas de calendário com as pin-ups de Alceu, cada vez mais ousadas e sensuais. Natural, portanto, que vestisse Martha Rocha no Concurso Miss Universo, em 1954. Está tudo registrado nas páginas de “O Cruzeiro”.

Seu reinado se estendeu pelos anos de 1960 devido a outro feito notável: eram dele figurinos dos monumentais eventos de moda e musicais da Rhodia ao longo de toda a década. Os desfiles percorreram passarelas da Europa (Roma, Paris), Ásia (Hong Kong e Beirute), EUA (Nova York) e depois quase todas as capitais brasileiras, sempre em espetáculos beneficentes.

Os espetáculos traziam shows de revelações que surgiam na época, nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Mutantes. Na música também, como se vê, Alceu deu certo empurrãozinho na história cultural brasileira.

Biografia de Alceu Penna segundo Itaú Cultural

Alceu de Paula Penna (Curvelo, MG, 1915 – Rio de Janeiro, RJ, 1980). Desenhista, ilustrador, figurinista. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1932 e publica seus primeiros trabalhos no Suplemento Infantil de O Jornal. Nesse ano, matricula-se no curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes – Enba e, durante os cinco anos que estuda nessa instituição, freqüenta como ouvinte diversos cursos ligados às artes plásticas. Em 1933, passa a ilustrar a revista O Cruzeiro.

Em 1937, realiza tradução de histórias em quadrinhos norte-americanas, além de adaptar diversos clássicos literários para essa linguagem. Esses trabalhos são publicados no tablóide O Globo Juvenil, lançado em 1937. No ano seguinte, começa a escrever e ilustrar, na revista O Cruzeiro, uma seção intitulada As Garotas, que se mantém ininterruptamente até 1964. Nesse período, As Garotas passa a ser uma referência de moda, estilo e comportamento para o público feminino. Em 1941, depois de algum tempo em Nova York, onde conhece Carmem Miranda (1909 – 1955), passa a dedicar-se à criação de figurinos para os espetáculos apresentados nos cassinos cariocas. De 1946 a 1952, trabalha na execução de uma série de calendários para a empresa Moinho Santista Indústrias Gerais e, paralelamente, na mesma empresa, ilustra a revista Tricô e Crochê e responsabiliza-se por sua publicação. Na década de 1950, desenvolve figurinos e cenários para diversos shows e espetáculos teatrais. Em 1960, por meio de uma parceria estabelecida entre as empresas O Cruzeiro e a multinacional francesa Rhodia, torna-se o responsável pela criação dos figurinos utilizados até 1975 na apresentação das coleções anuais da marca.

Comentário Crítico
Alceu Penna é um dos primeiros a desenvolver a técnica dos quadrinhos no Brasil. Cria para O Globo Juvenil adaptações em quadrinhos dos clássicos da literatura, como O Fantasma de Canterville, Um Yankee na Corte do Rei Arthur, Sonhos de uma Noite de Verão e Alice no País das Maravilhas. Os desenhos são feitos em preto-e-branco e o roteiro é do escritor Nelson Rodrigues (1912 – 1980). Esses trabalhos são publicados entre 1933 e 1939 ao lado de quadrinhos estrangeiros como Mandrake, Fantasma e Brick Bradford. Nos anos 1950, Alceu Penna faz para a revista A Cigarra os quadrinhos Marido da Madame, em que os personagens Gonçalo e Lolita vivem situações do cotidiano de um típico casal de classe média alta da época. O texto é da cronista Helena Ferraz, que usa o pseudônimo “Álvaro Armando”, e apresenta uma série de diálogos escritos em rima, que lembram a literatura de cordel.

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