Estilistas mineiros levam coleção às ruas

Por Paulo Peixoto
Jornalista da Agência Folha, Belo Horizonte

Desfile coletivo inspirado nas “Garotas do Alceu” no Minas Cult / 2005 – Com desfiles, exposições, performances, shows e debates, Festival Minas Cult ocupa espaços públicos de Belo Horizonte

O setor da moda de Minas Gerais decidiu reagir, ocupando ruas e espaços públicos de Belo Horizonte. Foi aberto anteontem à noite na praça da Liberdade (região central) o Festival Minas Cult, um movimento inédito e gratuito que, até 8 de maio, pretende mostrar à população a parceria de cerca de 30 estilistas e designers de moda mineiros com a arte, música, literatura e religião como inspiração de suas criações.
Desfiles, exposições, performances, shows e debates integram o festival, que, além de mostrar a interatividade da moda mineira com as variadas expressões culturais, pretende ser um movimento de resgate do tradicional mercado mineiro da moda, esquecido a partir do início dos anos 90, com os grandes eventos no Rio e São Paulo.
Na abertura dos desfiles, que vão durar cinco dias, o estilista Ronaldo Fraga mostrou sua última coleção inspirada na obra de Carlos Drummond de Andrade, com figurinos e cenário reproduzindo a poesia do poeta itabirano. A Patachou expôs uma passarela criada exclusivamente para ela por Amilcar de Castro (1920-2002), que hoje integra o acervo do artista plástico mineiro.
Renato Loureiro -que em uma tenda de 2.600 m2, armada na praça da Estação- vai apresentar suas coleções inspiradas no artesanato e no barroco mineiro. Ele disse que esse movimento estava reprimido há algum tempo e que busca não só despertar o setor da moda de Minas e chamar a atenção do país para esse pólo de produção mas também aproximar da moda o mundo da arte.
“Tem muita gente boa que está fora disso. São poucos estilistas e algumas marcas presentes em São Paulo. A maioria está fora”, disse. O estilista afirmou que “vale tudo” para despertar as pessoas para esse movimento, como bandas e a reedição pela Vide Bula de 63 camisetas expostas na praça da Liberdade com a foto de George W. Bush com nariz de palhaço, sobre a frase “The word is not a joke!” (o mundo não é uma piada!).
O Minas Cult é um desejo antigo do Grupo Mineiro de Moda e de empresários do ramo. Assina a produção executiva o empresário Paulo Borges, criador da São Paulo Fashion Week. “Passamos 15 meses discutindo o que fazer, coisas que fossem fiéis às coisas de Minas. Mas não é só moda, é o viés da moda para falar de design, arte e cultura como comportamento.”

“Garotas do Alceu”
A cada ano, o festival quer homenagear uma personalidade da moda. O primeiro Minas Cult presta homenagem ao ilustrador mineiro Alceu Penna (1915-80), que, durante anos, mostrou suas ilustrações de moda nas páginas da extinta revista “O Cruzeiro” com o nome “As Garotas do Alceu”. Inspirado nos figurinos dele, alguns estilistas criaram novos modelos, adaptados aos olhares de hoje, e vão apresentá-los amanhã na praça da Estação.
Trabalhos de Alceu Penna ficarão expostos no MAP (Museu de Arte da Pampulha), que, como a Casa do Baile -obras da primeira fase do trabalho do arquiteto Oscar Niemeyer- e o Museu de Artes e Ofícios, também serão locais onde os estilistas vão se misturar a músicos e artistas para mostrar e falar sobre comportamento, idéias e economia.

Publicação: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1504200523.htm


Como destaque na programação do primeiro Minas Cult no ano 2005, o desfile coletivo com inspiração nas “Garotas do Alceu”, vinte e cinco grifes e estilistas mineiros recriaram no espaço contemporâneo peças baseadas no trabalho do artista: Alphorria, Art Man, Brasilianas, Bárbara Bela, Claudia Mourao, Condotti, Drosófila, Eduardo Suppes, Eliana Queiroz, GL – Giselle Loyola e Luis Claudio, Graça Ottoni, Joaquim Nogueira, Liana Fernandes, Mabel Magalhães, Manoel Bernardes, Marcos Ferreira, Martielo Toledo, Patachou por Tereza Santos, Printing, Renato Loureiro, Sheila e Érika Mares Guia, Sonia Pinto, Terezinha Geo – Talento, Victor Dzenk e Vide Bula desfilaram mais de 30 looks com referências ao trabalho do famoso desenhista ao som de uma orquestra ao vivo, que tocou músicas de época.

Publicação: http://www.institutoinmod.org.br/desfile-as-garotas-do-alceu/

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