Garotas do velho Rio – as personagens de Alceu Penna e seu pertencimento cultural à cidade do Rio de Janeiro

Autora:  Daniela Queiróz Campos

Pós-doutoranda École de Hautes Études en Sciences Sociales de Paris / Supervisão do Professor Dr. Georges Didi-Huberman, Bolsista CNPq.

“Girls of the old Rio:  The characters of Alceu Penna and his cultural belonging to the city of Rio de Janeiro. 1″

Resumo:

O presente artigo aborda o pertencimento cultural das personagens da coluna Garotas do Alceu à cidade do Rio de Janeiro. A coluna circulou nas páginas da grande revista brasileira de variedades de meados do século XX o Cruzeiro (1928- 1975) de 1938 a 1964. Garotas era o título da afamada coluna de pin-ups ilustrada pelo desenhista mineiro Alceu Penna. As personagens femininas traçadas por Penna semanalmente apresentavam aos leitores de o Cruzeiro do cotidiano de jovens mulheres “modernas” em diferentes situações sociais que abarcavam novos modelos de sociabilidade urbana naquele Rio de Janeiro dos anos dourados pós segunda Grande Guerra mundial.

Palavras-chave: imagem. revista. cidade

Abstract:

This paper discusses the cultural belonging of the Alceu Penna’s column characters, the Girls or Garotas, to the city of Rio de Janeiro. The column circulated on the pages of the great Brazilian varieties magazine of the mid-twentieth century –O Cruzeiro (1928-1975) – from 1938 to 1964. To so called Garotas constituted the renowned pin-ups column, which the drawer Alceu Penna illustrated. The female characters drawn by Penna presented weekly for the readers of the magazine the daily lives of young “modern” women in different social situations that encompassed new models of urban sociability of Rio de Janeiro’s golden years – post Second World World.

Keywords: image. magazine. city.


Leia na íntegra:

https://www.rbhcs.com/rbhcs/article/view/352

1 O presente artigo apresenta-se como desmembramento de pesquisa doutoral realizada junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina sub a orientação da Professora Doutora Maria Bernardete Ramos Flores, tendo sido realizado um estágio doutoral na EHESS de Paris com o Professor Doutor Georges Didi-Huberman, ambos (doutorado e período de sanduiche) com bolsa CAPES.

 

Mulheres Ilustradas – Representações femininas nos Estados Unidos e no Brasil (1890-1945)

Autora: Joviana Fernandes Marques

Orientadora: Maria Claudia Bonadio

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Artes, Cultura e Linguagens do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora como requisito parcial a obtenção do grau de Mestre em Artes, Cultura e Linguagens.

Resumo

A presente pesquisa busca traçar um panorama sucinto das transformações observadas na ilustração americana, tendo por base um recorte temporal definido que abrange as décadas de 1890 a 1945. Para tanto, selecionamos um número limitado de artistas que tornam seus trabalhos símbolos de tais representações, analisando-os e comparando-os afim de nos aproximarmos de seu papel social, político e cultural, visando compreender as mutações sofridas em modelos ilustrados ao longo do anos. Assim procedemos também no capítulo último, ao elegermos para análise o ilustrador brasileiro Alceu Penna, no intuito de traçar os diálogos da ilustração americana com a ilustração nacional. Palco de grande produtividade gráfica, o recorte temporal proposto se inicia no fim da década de 1890 nos Estados Unidos, período que viu o nascimento do modelo da new woman personificado nos traços das famosas Gibson Girls. Percorremos a década de 1920, onde a euforia dos “anos loucos” deu a luz à mulheres de tornozelos a mostra e madeixas curtíssimas: a Era flapper. Com a Grande Depressão de 1929 bem como a Segunda Guerra Mundial, outro modelo emerge, as pin ups, transformando a euforia anterior em uma atmosfera regada ao patriotismo e sensualidade. Sua influência chega até o território nacional, influenciando a produção de ilustradores diversos, como o mineiro Alceu Penna. Para construir e compreender as transformações sofridas e suas influências, nos valemos de fontes primárias, como as ilustrações encontradas em acervos digitais e pessoais de colaboradores, e secundárias, como livros diversos, artigos e ensaios. Buscamos traçar diálogos que enriqueçam o debate em torno das representações ilustrativas de ambos países, esperando expandir os olhares a respeito dos caminhos que a ilustração é capaz de revelar. Ao analisarmos representações do feminino em Alceu Penna por paralelos e conversas com modelos norte-americanos, esperamos auxiliar nas visualizações de similaridades e diferenças entre as duas produções, contribuindo com novos pensamentos sobre o material gráfico de tais culturas, suas potencialidades e aproximações.

Palavras-chave: Ilustração, Estados Unidos, Brasil, Mulheres, pin up, Alceu Penna.

Abstract

This research seeks to draw a brief overview of the changes observed in american illustration, based on a defined time frame spanning the decades from 1890 to 1945. To this end, we selected a limited number of artists who make their work popular symbols of such representations, analyzing and comparing them in order to get closer to its social, political and cultural role, to understand the changing in models shown throughout the years. Likewise we proceeded in the last chapter. We elect to analyze the brazilian illustrator Alceu Penna in order to map out the dialogues of american illustration with national illustration. A stage for large graphical productivity, the proposed time frame begins at the end of the 1890s in the United States, a period that we saw the birth of the new model of woman personified in the features of the famous Gibson Girl. Go through to the 1920s, where the euphoria of the “crazy years” gave birth to women’s ankles show and very short strands: the Age of the flapper. With the Great Depression of 1929 and World War II, another model emerges, the pin ups, making the previous euphoria in an atmosphere watered with patriotism and sensuality. Its influence reaches the country, influencing the production of various illustrators, like Alceu Penna. To build and understand the transformations suffered and their influences, we make use of primary sources, such as the illustrations found in digital museum collections and personal archives, and secondary sources, as several books, articles and essays. We seek to trace dialogues to enrich the debate about the illustrative representations of both countries, hoping to expand looks about the ways that the illustration is able to reveal. Analyzing female representations in Penna by parallels and conversations with north american models, we hope to assist in views of similarities and differences between the two productions, contributing with new thoughts on the graphic material of such cultures, their approaches and potential.

Keywords: Illustration, United States, Brazil, Pin up, Alceu Penna.


Leia na íntegra: http://www.ufjf.br/ppgacl/files/2016/07/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Joviana-para-CD.pdf

Tio Alceu e a Música

Por Gilberto Penna Mascarenhas

Músico e Cronista.

Falar sobre Alceu Penna, sobre sua obra, falar do Alceu Penna, o grande desenhista e estilista, reconhecido e respeitado em todo o mundo, isso sim, é uma tarefa extremamente difícil!
Mas falar do meu Tio Alceu é uma tarefa fácil… sabe por quê?

Tio Alceu era um desses tios que amavam demais seus sobrinhos e era tanto carinho, tanto zelo, tanta atenção que dispensava a cada um de nós, que tínhamos a impressão de ser o único sobrinho que ele tinha!

A família Paula Penna reunida em Belo Horizonte, Natal 1949.

Foi Tio Alceu quem me ensinou a gostar das músicas de Cole Porter, dos irmãos Gershwin, de Irving Berlin, de Lena Horne, de Peggy Lee e, principalmente, dos maravilhosos musicais da Metro e da Brodway que ele assistia quando ia a trabalho a Nova York.

Foi também através da preciosa discoteca do tio Alceu que fui apresentado aos grandes cantores franceses – George Brassens, Françoise Hardy, George Moustaki, Pierre Bachelet e muitos outros.
A partir dos meus 15 anos quando ia ao Rio em férias e me hospedava no seu lindo apartamento na Rua Senador Vergueiro e até mesmo quando eu já estava casado e ia visitá-lo, era praxe Tio Alceu me apresentar as novidades musicais do mundo, pois sua enorme discoteca era sempre atual e riquíssima, com discos adquiridos nas suas freqüentes viagens a Europa e aos Estados Unidos.

Como ele notava que eu não conseguia traduzir na hora as letras das músicas, ora em francês, ora em inglês, ele ia fazendo tradução simultânea o que eu achava o maior barato!
Assim pretendo colocar aqui nessa crônica algumas músicas que escutava junto com ele.

A cada nota, a cada frase da música, ele vibrava. Permanecia sempre de pé, para ir alternando as musicas no toca-discos Garrard, pois na verdade era tal a sua ânsia musical que não esperava a música chegar ao final.

Em homenagem ao Tio Alceu: “THEY CAN’T TAKE THAT AWAY FROM ME”, de Ira e George Gershwin, nas vozes e no lindo bailado da saudosa dupla Ginger Rogers & Fred Astaire.


Assista no youtube:
https://youtu.be/WcD8h1LWai8

Estilistas mineiros levam coleção às ruas

Por Paulo Peixoto
Jornalista da Agência Folha, Belo Horizonte

Desfile coletivo inspirado nas “Garotas do Alceu” no Minas Cult / 2005 – Com desfiles, exposições, performances, shows e debates, Festival Minas Cult ocupa espaços públicos de Belo Horizonte

O setor da moda de Minas Gerais decidiu reagir, ocupando ruas e espaços públicos de Belo Horizonte. Foi aberto anteontem à noite na praça da Liberdade (região central) o Festival Minas Cult, um movimento inédito e gratuito que, até 8 de maio, pretende mostrar à população a parceria de cerca de 30 estilistas e designers de moda mineiros com a arte, música, literatura e religião como inspiração de suas criações.
Desfiles, exposições, performances, shows e debates integram o festival, que, além de mostrar a interatividade da moda mineira com as variadas expressões culturais, pretende ser um movimento de resgate do tradicional mercado mineiro da moda, esquecido a partir do início dos anos 90, com os grandes eventos no Rio e São Paulo.
Na abertura dos desfiles, que vão durar cinco dias, o estilista Ronaldo Fraga mostrou sua última coleção inspirada na obra de Carlos Drummond de Andrade, com figurinos e cenário reproduzindo a poesia do poeta itabirano. A Patachou expôs uma passarela criada exclusivamente para ela por Amilcar de Castro (1920-2002), que hoje integra o acervo do artista plástico mineiro.
Renato Loureiro -que em uma tenda de 2.600 m2, armada na praça da Estação- vai apresentar suas coleções inspiradas no artesanato e no barroco mineiro. Ele disse que esse movimento estava reprimido há algum tempo e que busca não só despertar o setor da moda de Minas e chamar a atenção do país para esse pólo de produção mas também aproximar da moda o mundo da arte.
“Tem muita gente boa que está fora disso. São poucos estilistas e algumas marcas presentes em São Paulo. A maioria está fora”, disse. O estilista afirmou que “vale tudo” para despertar as pessoas para esse movimento, como bandas e a reedição pela Vide Bula de 63 camisetas expostas na praça da Liberdade com a foto de George W. Bush com nariz de palhaço, sobre a frase “The word is not a joke!” (o mundo não é uma piada!).
O Minas Cult é um desejo antigo do Grupo Mineiro de Moda e de empresários do ramo. Assina a produção executiva o empresário Paulo Borges, criador da São Paulo Fashion Week. “Passamos 15 meses discutindo o que fazer, coisas que fossem fiéis às coisas de Minas. Mas não é só moda, é o viés da moda para falar de design, arte e cultura como comportamento.”

“Garotas do Alceu”
A cada ano, o festival quer homenagear uma personalidade da moda. O primeiro Minas Cult presta homenagem ao ilustrador mineiro Alceu Penna (1915-80), que, durante anos, mostrou suas ilustrações de moda nas páginas da extinta revista “O Cruzeiro” com o nome “As Garotas do Alceu”. Inspirado nos figurinos dele, alguns estilistas criaram novos modelos, adaptados aos olhares de hoje, e vão apresentá-los amanhã na praça da Estação.
Trabalhos de Alceu Penna ficarão expostos no MAP (Museu de Arte da Pampulha), que, como a Casa do Baile -obras da primeira fase do trabalho do arquiteto Oscar Niemeyer- e o Museu de Artes e Ofícios, também serão locais onde os estilistas vão se misturar a músicos e artistas para mostrar e falar sobre comportamento, idéias e economia.

Publicação: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1504200523.htm


Como destaque na programação do primeiro Minas Cult no ano 2005, o desfile coletivo com inspiração nas “Garotas do Alceu”, vinte e cinco grifes e estilistas mineiros recriaram no espaço contemporâneo peças baseadas no trabalho do artista: Alphorria, Art Man, Brasilianas, Bárbara Bela, Claudia Mourao, Condotti, Drosófila, Eduardo Suppes, Eliana Queiroz, GL – Giselle Loyola e Luis Claudio, Graça Ottoni, Joaquim Nogueira, Liana Fernandes, Mabel Magalhães, Manoel Bernardes, Marcos Ferreira, Martielo Toledo, Patachou por Tereza Santos, Printing, Renato Loureiro, Sheila e Érika Mares Guia, Sonia Pinto, Terezinha Geo – Talento, Victor Dzenk e Vide Bula desfilaram mais de 30 looks com referências ao trabalho do famoso desenhista ao som de uma orquestra ao vivo, que tocou músicas de época.

Publicação: http://www.institutoinmod.org.br/desfile-as-garotas-do-alceu/

Alceu Penna segundo Ziraldo

Por Ziraldo Alves Pinto
Escritor, cartunista, ilustrador.

Publicado no Catálogo da Exposição “As Garotas do Alceu” (Palácio das Artes/Belo Horizonte, MG/Julho 1983) 

“De las dos almas en el mundo que habia unido Diós, dos almas que se amaban, esto” éramos um de nós e uma Garota do Alceu.
Nós éramos os namorados das Garotas do Alceu. Nós as tínhamos “under our skins”.
Nós amávamos as Garotas do Alceu.
Durante anos, todas as moças bonitas deste País – dos fins da tarde nas calçadas da Praia de Icaraí, em Niterói, e das filas do Cine Metro, no Rio, aos “footings” das pracinhas do interior – se penteavam, se sentavam, gesticulavam, sorriam e se vestiam como as Garotas do Alceu.
E nos encantavam e nos faziam sonhar. Tanto que, muitos de nós – quase todos os que se casaram naquela época – nos tornamos, um pouco, genros do Alceu.
Nós conversávamos nos bancos das praças, passeávamos pelas calcadas, beijávamos no cinema e dançávamos nas nossas festinhas, ao som da nossa canção. E depois, ganhávamos de presente um caderno com todas as letras das músicas de sucesso, com a nossa canção abrindo a coleção, fosse ela um bolero de Gregório Barrios ou um “fox” de Nat King Cole.


E cada letra vinha enfeitada com a figura de uma das mocinhas cheias de graça que Alceu Penna (1915-1980) publicava, todas as semanas, nas páginas da revista O Cruzeiro.
A equipe de jornalistas, repórteres, ilustradores e humoristas do Cruzeiro criaram vários mitos naqueles tempos – que não vão muito longe. Não tenho, porém, conhecimento, na história de nossa imprensa, de nenhum outro artista que tenha influenciado, com seu trabalho, o comportamento de toda uma geração (talvez só o Pasquim, com seu conjunto de colaboradores, tenha conseguido isto, alguns anos mais tarde).
Sei – por informações e pesquisas – da importância de J. Carlos para sua época, com seus almofadinhas e suas melindrosas; conheci o trabalho de Péricles, com o seu Amigo da Onça, mas estou seguro de que, nem um nem outro, conseguiu com seu desenho agir sobre o modo de ser do brasileiro, determinar maneiras de comportamento, de sentir, de escolher, de vestir.
Em suma: criar uma moda brasileira.
Fazer o que a televisão faz hoje, em escala cósmica, era um trabalho quase impossível para um desenhista só, mesmo numa revista que, à época, significava para o Brasil o que a TV Globo, por exemplo, significa nos tempos de agora. Mesmo porque, a mensagem impressa não tem nem a velocidade nem o impacto da mensagem eletrônica. O que aumenta os méritos da obra de Alceu Penna como ilustrador e figurinista.
Suas meninas de olhos expressivos, de gestos delicados e cheios de graça, de cinturas finas, de longos cabelos e de saias rodadas, cujo tecido era informado com duas ou três pinceladas – a gente sabia se era seda ou algodão – eram tão fortes que, me parece, os leitores conviviam com elas como se convive com um ser vivo: ninguém fica perguntando quem é o pai da criança.
Elas tinham vida própria, e tanta que Alceu desaparecia por trás delas. De resto, Alceu Penna era um homem calmo e retraído, doce e sereno, doméstico, não gostava de aparecer. E, muito cedo, tão logo o sucesso da revista O Cruzeiro começou a se esvanecer, ele foi sendo esquecido.
Uma injustiça que não se pode atribuir a ninguém. Há coisas que acontecem na vida e, com todos os dados ao nosso alcance para explicá-las, corremos o risco de chegar a uma falsa dedução. Simplesmente: aconteceu assim.
Alceu me encantava. Seu trabalho, sua técnica, sua sofisticação, a incrível facilidade com que ele desenhava, me encantavam.
Aqui está a primeira exposição de seu trabalho, depois de sua morte. Acredito que seja a primeira exposição dos trabalhos desde que ele começou (não me lembro de outra – eu disse – ele era retraído e desenhava como quem respira: por pura necessidade vital). Dava-nos sempre a impressão de que o que fazia não era muito importante, nem para ele nem para ninguém.
Puro jeito de ser. Ele, no fundo, sabia que era um grande artista, um dos maiores de toda a História da imprensa brasileira.
Acho urgente que esta sua exposição percorra o Brasil inteiro. Nada disso de querer que sua memória seja reverenciada. Ele iria achar de extremo mau gosto, não é por aí. O que importa é que os primeiros netinhos das Garotas do Alceu conheçam o desenho do moço que ensinou vovó a ser a adolescente mais doce deste século.

 

Alceu Penna, o figurinista de São João

 Por Nelson Cadena

Pesquisador e jornalista

Publicado no Correio da Bahia (21/07/2017)

 “É claro que o artista influenciou a mídia específica e vários concorrentes tentaram impor estilos da então denominada moda caipira, numa referência à forte tradição das festas juninas no interior do Brasil, em especial no Nordeste. Nenhum obteve sucesso. Ao contrário, Penna continua atualíssimo. Basta olhar as suas sugestões de vestidos, sapatos e botas, chapéus, blusas de época, para garotas; são as mesmas que vemos hoje nas vitrines das lojas de shoppings nessa época do ano. Alceu interpretou, como nenhum outro desenhista de seu tempo, o espírito junino que traduziu em estampas associadas os elementos característicos: fogueiras, balões, sortes, milho, bandeirolas…” Nelson Cadena em “Alceu Penna, o figurinista de São João”, Correio da Bahia.Leia na íntegra:Nelson Cadena:

Alceu Penna, o figurinista de São João

 Pode ser exagero, mas me sinto confortável, nesse excesso verbal, reconhecer que a moda das festas juninas tem um pai e quem encarna esse papel de figurinista é Alceu Penna, jornalista, figurinista, designer de embalagens e ilustrador nascido em Minas Gerais e que durante mais de 40 anos brindou os brasileiros com desenhos publicados nas revistas A Cigarra e, em especial, O Cruzeiro, a semanal de maior circulação no Brasil entre as décadas de 1930 e 1960. Abrindo e fechando um parênteses, há quem reconheça como de sua inspiração a baiana estilizada do figurino de Carmem Miranda, símbolo da brasilidade na terra do Tio Sam.

Ninguém neste país influenciou tanto a moda das festas juninas quanto o jornalista aqui referido. Através de centenas de modelitos criados por ele e divulgados em páginas duplas da revista, ano após ano, nas edições de junho, quase sempre com comentários em texto,  Penna influenciou tanto a elite e a classe média brasileira que lia revistas e participava das festas de São João nos clubes sociais, que as grandes fabricantes de tecidos lançaram no mercado similares dos seus desenhos. O mineiro, já consagrado ilustrador, acabou sendo mais tarde consultor e figura exponencial dos famosos desfiles da Rhodia.

 Todas as mulheres brasileiras queriam ficar lindas e sensuais (o lápis do ilustrador imprimia essa forte característica) com os vestidos, inicialmente de chita, desenhados por Alceu, que, além de originais nessa temática, abusavam das cores e esse era um de seus triunfos. Outros desenhistas de moda da época, tipo Raquel, na revista O Cruzeiro, e Marinete, na Revista da Semana, seguiam a tendência das estações, ou no máximo incursionavam na moda temática de fantasias de Carnaval, na qual Alceu Penna também foi um exímio criador. Também de maneira brasileiríssima, fugindo do estereótipo de árabes, sheiks, ciganos, piratas, marinheiros, etc.

É claro que o artista influenciou a mídia específica e vários concorrentes tentaram impor estilos da então denominada moda caipira, numa referência à forte tradição das festas juninas no interior do Brasil, em especial no Nordeste. Nenhum obteve sucesso. Ao contrário, Penna continua atualíssimo. Basta olhar as suas sugestões de vestidos, sapatos e botas, chapéus, blusas de época, para garotas; são as mesmas que vemos hoje nas vitrines das lojas de shoppings nessa época do ano. Alceu interpretou, como nenhum outro desenhista de seu tempo, o espírito junino que traduziu em estampas associadas os elementos característicos: fogueiras, balões, sortes, milho, bandeirolas…

 Na sua estreia, em 1939, na seção “Garotas” de São João, criou figurinos com foco no vermelho. Mais tarde, início da década de 50, lançou os vestidos ajustados com babados e mangas fofas, propondo  o algodão como matéria-prima. Nos reporta a figurinos característicos de algumas quadrilhas de nossa região. Na década de 60, Alceu inovou com as estampas de fogos acesos, cores de milho, bandeirolas e as combinações com retalhos que acabaram se popularizando anos depois para além do simples uso no vestuário de época. É nessa década que o figurinista passa a desenhar camisas e calças masculinas para as festas juninas e também a confeccionar as peças, vestindo modelos com elas para apresentá-las em fotografia.

Alceu Penna também escrevia, mas nos textos que ilustravam moda servia-se de dois grandes parceiros: Aladino e Maria Luíza. Esta última, num comentário sobre a moda junina, escreveu: “As garotas depois de muito pensar nos defeitos dos homens descobrem que eles só têm um defeito grave: achar que elas têm defeitos”. Uma frase bobinha, mas com algum sentido para os anos 60.

Fonte: Nelson Cadena: Alceu Penna, o figurinista de São João

 

Maison Dior faz 70 anos

Nota do Editor: Dior sempre foi para Alceu Penna um dos mais admirados estilistas franceses. Inúmeras vezes suas criações foram reproduzidas nos traços do mestre e comentadas com efusividade, como neste desenho de 1953. Na semana em que a grife @dior comemora 70 anos em plena atividade, a homenagem de Alceu Penna.  Publicado no Instagram/@alceu_penna_oficial (04/07/2017)


Modelo de Christian Dior, 1947

A mostra, que teve seus espaços assinados pela arquiteta Nathalie Crinière, é uma espécie de retrospectiva pelos anos da história de Christian Dior e sua marca. Lá, será possível conferir alguns modelos históricos, como o conjunto de blazer e saia que ficou famoso como o principal representante do New Look. O trabalho dos designers sucessores do criador da Maison também será prestigiado, inclusive as criações da atual diretora criativa da marca, Maria Grazia Chiuri, primeira mulher a alcançar esse cargo.

Modelo de Maria Grazia Chiuri para Dior, 2017

Registros fotográficos do estilista e de momentos importantes para a grife francesa também estão entre os itens da exposição. Imagens de Christian no ano da fundação da Dior e dos luxuosos desfiles organizados para convidadas especiais no grande salão de sua Maison na Av. Montaigne são alguns dos destaques.

Christian em 1946 | Desfile no grande salão da Av. Montaigne, em 1953

A exposição estará aberta para visitação entre o dia 5 de julho de 2017 e 7 de janeiro de 2018.

Saiba mais:

http://pt.fashionnetwork.com/news/Exposicao-comemora-os-70-anos-da-Dior,846961.html#.WV7jZmgrJhE

Exposição comemora os 70 anos da Dior

O Cassino da Urca, atual sede do IED-Rio em processo de revitalização

Instagram/@alceu_penna_oficial

Palco de tantas produções artísticas em que Alceu Penna fez trabalhos gloriosos nos anos 40, o antigo cassino fechado em 1946 vai ser restaurado.
Sede atual do Istituto Europeo di Design, IED-Rio, a segunda etapa das obras, orçadas em R$ 27 milhões, está prevista para em outubro, com a criação de um Centro de Estudos e novo Teatro. 🎭👏🏻👏🏻👏🏻  Vamos aguardar, o lugar é lindíssimo e cheio de história!

Leia mais:

POR O GLOBO

— O teatro deve ficar pronto de seis a oito meses após o início das obras e será logo aberto ao público, para a realização de peças, shows, exposições e desfiles. Em paralelo, seguiremos com a obra do laboratório de inovação, que dará aos makers (arquitetos, designers e profissionais da área criativa em geral) a possibilidade de produzir tecidos, protótipos, maquetes. A previsão de conclusão é 2019 — afirma Fabio Palma, diretor do IED, que abriga cursos de graduação e pós-graduação em campos da economia criativa, como design estratégico, moda, comunicação visual e urbanismo sustentável.

A etapa “zero” do projeto começou em junho do ano passado, quando o IED deu início à limpeza do prédio do teatro, tomado por lixo e entulho. Seis semanas e cinco caçambas grandes de caminhão de resíduos retiradas depois, o espaço, um esqueleto de tijolos aparentes, que conserva o desenho original do casarão, estava apto a receber visitas: já abrigou duas peças de teatro e vai hospedar, a partir deste sábado, a exposição “Ambientes Infláveis”, dos artistas Hugo Richard e Natali Tubenchlak.

— E, em outubro, antes do início das obras, teremos uma ópera lírica multimídia da Jocy de Oliveira aberta ao público — adianta Fabio.

 

Segundo o diretor do IED, o novo empreendimento “será o primeiro prédio sustentável tombado do Brasil” (pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade): terá painéis solares, geradores eólicos, aproveitamento geotérmico — para diminuir a necessidade do uso de ar-condicionado —, além de reutilização total da água da chuva. A obra custará R$ 27 milhões.

— Fomos autorizados pelo Ministério da Cultura a captar até R$ 21 milhões pela Lei Rouanet. Apresentamos o projeto ao BNDES, e ele foi formalmente acolhido. Em julho, deveremos ter uma resposta — afirma Fabio.

Em 2006, a prefeitura cedeu ao IED por 25 anos, renováveis por mais 25, o prédio do antigo Cassino da Urca, que já abrigou o Hotel Balneário e a TV Tupi. Em 2014, após R$ 14 milhões serem investidos em revitalização, a parte do imóvel voltada para a praia foi inaugurada, com salas de aula (hoje são cerca de 600 alunos), laboratórios criativos, espaço para exposições e uma cafeteria.

— A contrapartida do IED era a reforma integral do prédio, conservação e manutenção, para transformá-lo num espaço privado e, ao mesmo tempo, público. Temos um programa de concessão de bolsas e oferecemos atividades gratuitas — observa o diretor.

Mas ainda há uma grande polêmica entre o IED e os moradores da Urca, preocupados com o impacto da atração no bairro.

 

— Fiz um projeto para desestimular o uso de carros e consegui que a prefeitura e o Itaú instalassem uma estação do Bike Rio. Para os 15% dos usuários do IED que vêm de carro, há convênio com o estacionamento da Igreja Santa Teresinha e van para traslado — assegura Fabio.

A Associação de Moradores da Urca (Amour) resiste.

— Na Urca não cabe teatro, as ruas são muito estreitas, o trânsito engarrafa facilmente. É um bairro que não aguenta esse impacto — afirma Cida Ferreira, presidente da Amour, que entrou com uma ação contra a cessão de uso do terre

Leia mais: https://oglobo.globo.com/rio/em-processo-de-revitalizacao-cassino-da-urca-renasce-aos-poucos-21378706#ixzz4lzZItiOR
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Em processo de revitalização, Cassino da Urca renasce aos poucos

Os valores e papéis sociais femininos nos figurinos de moda de Alceu Penna

Autora: Rosane S. F. Guerin
Graduada em Moda pela Universidade Anhembi Morumbi (2000). Especialização em Moda: Criação e Produção pela Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC (2002). Mestrado em Educação e Cultura pela mesma universidade (2007). Mestrado em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP (2009).
E-mail: [email protected]

The values and women’s social roles in fashioned outfits of Alceu Penna

Resumo

Este artigo refere-se a uma pesquisa que abrange as áreas da semiótica discursiva, comunicação e moda, tendo como universo o conjunto de imagens de moda dos figurinos de Alceu Penna inserido na coluna Figurinos da revista O Cruzeiro,
da década de 1950. Desse conjunto foi extraído o corpus de pesquisa, possibilitando estudar a visibilidade das práticas sociais referentes a determinado simulacro feminino e tipo de mulher inscritos no universo imagético da revista. Busca-se identificar e analisar as imagens de moda propostas pelo figurinista que assinalam modos de presença feminina e que perseguem a construção de um simulacro de mulher brasileira

Abstract

This article refers to a research which covers the areas of discursive semiotics, communication and fashion, considering its universe the set of Alceu Penna’s fashion plates within the column Figurinos in the magazine O Cruzeiro from the 1950’s. The corpus of this research was built out of this set of images, which enables to study the visibility of the social practices regarding some female simulacrum inserted in the illustrated universe of the magazine. One intends to identify and analyze the fashion images proposed by the designer which point out the feminine presence and tracks
the creation of the Brazilian woman simulacrum.
[key words] O Cruzeiro magazine; fashion; Alceu Penna; plastic semiotics; social semiotics.


Leia na íntegra: https://dobras.emnuvens.com.br/dobras/article/download/167/166

Alceu Penna inspira acadêmicos de Moda em nova exposição do Espaço Cultural Feevale

Mostra “Alceu Penna é show! Figurinos & fantasias” abre dia 17 de outubro, com palestra de Manon Salles
Fantasia de pierrete, criada pelas acadêmicas Alessandra Moraes, Giovana Ghiorzi e Vitória Proença. Foto: Ana Antunes

O grande artista Alceu Penna, que criou figurinos para Carmem Miranda e ditou moda, será a inspiração para a nova mostra do Espaço Cultural Feevale.

A exposição “Alceu Penna é show! Figurinos & fantasias” começará dia 17 de outubro, no quarto andar do Teatro Feevale. Nela serão apresentados 12 figurinos e fantasias dos espetáculos do Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, entre 1934 – 1975, entre outros, que foram reconstituídos por 31 acadêmicos das turmas de Projeto de Figurino do curso de Moda da Universidade Feevale, peças de vestuário originais do acervo, esboços e croquis, além do trabalho do artista como ilustrador.
De acordo com a professora da disciplina Projeto de Figurino, Ana Hoffmann, que também é uma das curadoras da exposição, a exibição enfatiza a importância e a representatividade de Alceu Penna para a história da moda brasileira. “É uma exposição que reúne fragmentos do trabalho artístico desse criador múltiplo. A exposição ainda exibirá fotos que narram parte da sua vida e obra”, explica. A mostra também tem curadoria de Luiza Penna, sobrinha de Alceu Penna.
 
A abertura terá a convidada especial Manon Salles, doutora pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), onde defendeu tese sobre conservação de acervos têxteis de figurinos e de roupa social (Moda). O tema da palestra será Os figurinos e sua materialidade enquanto um acervo vivo, que abordará questões contemporâneas sobre a conservação de coleções e acervos de figurinos em museus e companhias e sua função enquanto objeto de pesquisa.
Manon é mestre em Ciências da Comunicação pela mesma Universidade, onde coordenou o Núcleo de Pesquisa Centro de Estudos da Moda. Atua como docente em diversas universidades na graduação e pós-graduação e, também, é consultora para criação e desenvolvimento de cursos, congressos, projetos culturais e exposições de moda e da arte.
Ao longo dos 30 dias de exposição, estão previstas ações educativas, como oficinas e palestras vinculadas à temática da exposição. A programação completa pode ser conferida no serviço, mais abaixo.
 
 

SERVIÇO:

Exposição Alceu Penna é show! Figurinos & fantasias
Local: Espaço Cultural Feevale, 4° andar do Teatro Feevale (ERS-239, 2755, Novo Hamburgo/RS)
Abertura: 17 de outubro, às 19h30min, com a palestra Os figurinos e sua materialidade enquanto um acervo vivo, de Manon Salles
Visitação: gratuita, de 17 de outubro a 18 de novembro
Horários: de segunda a sexta-feira das 14h às 18h. O agendamento de visitas pode ser feito pelo email [email protected] ou pelo telefone (51) 3586-9235
Curadoria: professora Ana Hoffmann e Luiza Penna
Coordenação do Espaço Cultural Feevale: professores Anderson Luiz de Souza e Laura Ribero Rueda
 
 

AÇÕES EDUCATIVAS

  • 17 de outubro, às 19h30min – Abertura da exposição e palestra Os figurinos e sua materialidade enquanto um acervo vivo, com Manon Salles
  • 31 de outubro, às 20h – Palestra A moda de Paris e o olhar de Alceu Penna, com o professor Raphael Sholl
  • 9 de novembro, às 14h – Alceu Penna – Inspirando coleções, com a professora Joeline Lopes
  • 9 de novembro, às 20h – Aula aberta de desenho de observação, com o professor Anderson Luiz de Souza
  • 10 de novembro, às 14h – Oficina aberta de desenho de vestuário, com o professor Anderson Luiz de Souza
  • 14 de novembro, às 14h – Oficina de construção de máscaras de Carnaval, com a professora Ana Hoffmann

    Veja mais: http://feev.as/2d7a229