Por Raphael Vidigal
Escritor, letrista e repórter; publicado em 14/05/2015
“Sol, s.m.
Quem tira a roupa da manhã e acende o mar
Quem assanha as formigas e os touros
Diz-se que:
se a mulher espiar o seu corpo num ribeiro florescido de sol, sazona
Estar sol: o que a invenção de um verso contém” Manoel de Barros
Oliviero Toscani, fotógrafo italiano, afirma que “Caravaggio e Michelangelo, sim, eram publicitários”, ao contrário dele, conhecido por campanhas polêmicas da marca Benetton. E justifica: “Criaram imagens que reproduziam o ideal de beleza no qual a Igreja Católica acreditava”. Para alguns artistas, o adjetivo “moda” é insuficiente. Alceu Penna, mineiro de Curvelo, que tem o centenário de nascimento comemorado neste ano de 2015, é um deles. Célebre pela criação de “As Garotas” na revista “O Cruzeiro”, de 1938 até 1964, Alceu transitou por categorias de entretenimento mantendo o ofício afiado na ponta do lápis. Assinou fantasias de carnaval e peças para desfiles da Rhodia. Se como estilista Penna é quase um solitário no país, ao lado de nomes como Clodovil, Dener, Zuzu Angel e Ronaldo Fraga, é possível constatar no desenho uma larga tradição nacional, especialmente na caricatura, isso sem mencionar mestres da pintura como Tarsila do Amaral e Portinari
Essa, portanto, é a principal singularidade do desenho de Alceu Penna, pois, ao mesmo tempo em que serve a interesses do mundo publicitário, do entretenimento, da moda, oferece por esse caminho uma leitura sensual, rebelde, libertadora. Nessa dicotomia pouco usual consiste o segredo da longevidade do artista. Em J. Carlos e Ziraldo, para exemplificar por meio da comparação, há o deboche. Millôr, Jaguar, Henfil e outros, tendem para a arte plástica que segue a um modelo distante das formas gregas e logo harmônicas do conceito de beleza. Alceu Penna coloriu e traçou as curvas das mulheres brasileiras naquele fragmento da tentação: no que de proibido tem de mais deleitoso. A obra de Alceu é, por fim, uma ode à beleza. Que o poeta Baudelaire assim definiu: “Ritmo, perfume, luar, ó minha rainha! – Menos feio o universo e leves os minutos?”.
Fonte: http://www.esquinamusical.com.br/centenarios-2015-alceu-penna-tracou-e-coloriu-uma-ode-a-beleza/