Alceu Penna, estilista que vestiu Carmem Miranda, completa cem anos

GONÇALO JUNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se contar, ninguém acredita. Pode parecer exagero, mas, talvez, as trajetórias de Carmen Miranda, Nelson Rodrigues e Millôr Fernandes fossem diferentes se seus caminhos não tivessem cruzado com o do mineiro Alceu Penna. Cartunista e pioneiro da moda no Brasil, Alceu faria hoje 100 anos de idade –para a família, a data correta é 1º de janeiro. Sua história, pouco conhecida, lembra um daqueles personagens do cinema que foram testemunhas dos mais importantes eventos de seu tempo. A diferença é que ele estava lá mesmo. De verdade.

Nascido em Curvelo (MG), Alceu se mudou para o Rio de Janeiro em 1932, aos 17, e no mesmo ano, começou a fazer capas para a revista “O Cruzeiro”. Entre 1938 a 1964, Alceu Penna teve um papel importante nos costumes das mulheres brasileiras, com sua coluna “As Garotas”, publicada toda semana na revista.

 

 

Desenhos de Alceu Penna

Um anúncio de 1938, publicado nos jornais da rede Diários Associados (que editava também a revista), falava da novidade e de seu estilo: “As garotas são a expressão da vida moderna. Endiabradas e inquietas, elas serão apresentadas todas as semanas em ‘O Cruzeiro’ por Alceu Penna”.

A cada edição, ele trazia algum tema que ocupava de duas a quatro páginas da revista. Desde assuntos políticos a cinematográficos, esportivos etc. Quem seguia a moda, copiava as roupas –cuidadosamente feitas com as cores e tendências do momento– e as atitudes de “As Garotas”. O artista fazia ainda sugestões para penteados.

As cenas eram completadas com frases: “Nada existe de mais prático para verão do que os shorts, uma genial invenção ‘yankee’ que parece ser destinada exclusivamente ao nosso clima. Aqui vemos nada menos do que sete modelos encantadores. Alguns deles servem também para entrar n’água…”.

CARMEM MIRANDA

Antes desse sucesso todo, Alceu–um amante das histórias em quadrinhos– deu um jeito de colaborar com “O Globo Juvenil”. Era um tabloide que circulava três vezes por semana e fora criado por Roberto Marinho, em junho de 1937. Ali, propôs a um assistente do editor que adaptassem juntos clássicos da literatura para o suplemento.

O nome do assistente era Nelson Rodrigues, que teve, assim, uma de suas primeiras experiências de criação, antes de se tornar cronista, ficcionista e dramaturgo dos melhores.

A parceria rendeu bons frutos. Eles levaram para a linguagem dos gibis, entre outros, “Sonho de uma Noite de Verão”, de Shakespeare, “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, e “O Mágico de Oz”, que acabara de virar longa-metragem de sucesso.

Na virada dos anos 1930 para os 1940, Alceu viveu dois anos nos EUA, quase ao mesmo tempo em que sua amiga Carmen Miranda. Pretendia ser ilustrador e cartunista da revista “Esquire”, e conseguiu. Por mais de um ano, o brasileiro colaborou com cartuns na publicação.

Ele havia conhecido Carmen nos bastidores do Cassino da Urca. Algumas semanas antes de embarcar para a América, em 1939, Carmen deu uma entrevista a “O Cruzeiro” em sua casa, no Rio.

Quando o papo acabou, o desenhista fez uma série de sugestões para renovar o guarda-roupa da cantora. Adicionaria, segundo disse depois, “saias multicolores, os turbantes fantásticos e os sapatões de sola grossa”.

Em 1941, Alceu caiu de paraquedas em outro fato histórico importante: a vinda do produtor e animador Walt Disney ao Brasil, como parte da política de boa vizinhança dos EUA na América Latina durante a Segunda Guerra Mundial.

 

A legenda da foto de Alceu conversando com Disney antes da seção do filme “Fantasia”, publicada em “O Cruzeiro”, informava que ele fora encarregado pelo Itamarati de ser o tradutor de Disney nos dias em que ele passou no Rio de Janeiro.

MOCASSIM

Não fosse Alceu, quem sabe Millôr Fernandes teria se aposentado em outra profissão? Em 1937, Millôr tinha 13 anos e, por indicação de um tio, foi trabalhar em “O Cruzeiro” como ajudante gráfico.

Como havia muito trabalho –”O Cruzeiro” e os quadrinhos de “O Globo Juvenil” “”, Alceu chamou Millôr para que ele o ajudasse no acabamento das histórias em quadrinhos e da coluna “As Garotas”. Ao mesmo tempo, teria a oportunidade de aprender a desenhar, com dicas de esboço e arte-final.

“Passava algumas horas por dia, duas ou três vezes por semana, preenchendo o fundo dos seus desenhos”, lembrou Millôr, anos mais tarde. “Não foi muito tempo, mas foi tempo de encanto e medo. Você não imagina o pavor que eu tinha de errar tudo, inapelavelmente.”

Nesse convívio, Millôr viu nos pés de Alceu, pela primeira vez nada vida, um calçado elegante e revolucionário chamado mocassim. Millôr se lembraria do amigo “com uma educação (modos e maneiras) absolutamente esmerada e temperamento invejável. Uma qualidade nunca a desprezar: um homem belíssimo”. Para ele, a tônica de Alceu, no trabalho e na pessoa, estava na delicadeza.

ESTILISTA

Com dificuldades para importar material jornalístico da França durante a guerra, o editor de “O Cruzeiro” pediu que Alceu criasse modelos para as leitoras. Como estilista, assinou figurinos de famosas montagens do Cassino da Urca, do Rio, e do luxuoso Hotel e Cassino Quitandinha, de Petrópolis.

A partir de 1946, passaria seis meses por ano em Paris, de onde mandava as últimas tendências da moda. Alceu se tornou absoluto como referência na década de 1950, quando virou a principal atração da revista feminina “A Cigarra”. Noivas de todo Brasil, ricas e pobres, pediam-lhe desenhos de vestidos.

Ele atendia a todas. E jamais cobrou um centavo pelos modelos. Bastava-lhe a alegria de ver uma jovem subir ao altar com uma criação sua.

Seus figurinos, por anos, estamparam as capas da revista “Tricô e Crochet”, da fabricante de fios Moinho Santista.

Lojas de tecidos ofereciam a seus clientes folhinhas de calendário com as pin-ups de Alceu, cada vez mais ousadas e sensuais. Natural, portanto, que vestisse Martha Rocha no Concurso Miss Universo, em 1954. Está tudo registrado nas páginas de “O Cruzeiro”.

Seu reinado se estendeu pelos anos de 1960 devido a outro feito notável: eram dele figurinos dos monumentais eventos de moda e musicais da Rhodia ao longo de toda a década. Os desfiles percorreram passarelas da Europa (Roma, Paris), Ásia (Hong Kong e Beirute), EUA (Nova York) e depois quase todas as capitais brasileiras, sempre em espetáculos beneficentes.

Os espetáculos traziam shows de revelações que surgiam na época, nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Os Mutantes. Na música também, como se vê, Alceu deu certo empurrãozinho na história cultural brasileira.

Moda anos 50 por Alceu Penna e Boneca Barbie

Moda anos 50 por Alceu Penna e Boneca Barbie

 http://anacaldatto.blogspot.com
Boneca Barbie e Moda e Alceu Penna
Dois assuntos que tenho “pouco” conhecimento mas aprecio muito
Barbie e Alceu Penna algo em comum:
encontrei recentemente entre pertences da Familia a revista nº 36 Tricô e Crochê  Maio- Junho de 1950 capa ilustrada com desenho do Estilista Alceu Penna:
 deparei-me com belos desenhos de Moda do Estilista Alceu Penna,
 os desenhos que recorda o perfil da Boneca Barbie de 1959:
Minha visão de Barbie e Alceu Penna:
Moda anos 50
Desenhos A Ultima Moda por Jaqques Fath e Christion Dior em 1950,
Modelos de Jaqques Vestido em Pied de poule com debruns em veludo marcante na coleção.
Mossouline tecido tendencia na primavera de 1950, vestido com pregas nas horizontais.
Colarinho divertido e original das criações de Fath:
“Eu desenho roupas para mulheres-flores, com ombros arredondados, bustos empinados e cinturinhas finas marcadas por saias ultrarodadas”. A frase dita por Christian Dior descreve bem seu revolucionário New Look, lançado em 1947.
De  Dior:
O Tailler em fil a fil gris com gola em fustão com cintura baixa que lembra a silhueta de “la Garcone”   ou cintura de garçonete.
Saia em shantung que espande em Godês.
 Vestido modelo crepe amarelo é plissado na frente e soleis nas costas, decote em ferradura:
Coleção Inverno Paris 1950:
Moda Inverno Paris de 1950 mandava Tailleurs elegantissimos com Estilistas Fath, Bruyére, Balenciaga, Manguin, Dior e Lanven:
Jaqques Fath com Modelos em “pied de poule” com debruns de veludo.
Bruyére  Modelo em Gabardine com muitos botões e casaco trespassado.
Balenciaga com modelo em lã tailleur Havana com bolsos baixos.
Manguin com Tailler Beije, crusado com bolsos efeito petalas.
Dois Vestido de Lanven em alpaca abotoado em blusa de piquê.
Vestido de Christion Dior é de Jersey vermelho com bolsos de feitio militar tomando toda a frente da saia:
Sugestões de modelos do Estilista Alceu Penna para inverno de 1950,
casaco vermelho com mangas em ponto sanfona, flanela branca e tricô marinho,  Sueter com barrra em Lã Grossa, decote fundo terminando em eclair,:
Moda Garotas do Clube por Alceu Penna Estlista para a revista Cruzeiro 1956:
 ilustração Moda E CHAPELARIA anos 50 do Estilista Alceu Penna:
  momento Nostalgia da Ana
edição Trico e Crochê de 1950 entrevista com Betth Davis:
Propaganda antiga –  Tormento Pó de arroz Poema da cor:
propaganda antiga regulador Xavier:
propaganda antiga Valisere:
 Boneca comemorativa aos 50 anos da Barbie e  Outras foto coleção Barbie click AQUI:

   (Editando o post  em 2013)
Quando fiz a postagem em 2011   notando a grande semelhança da Barbie Vintage Mattel com desenhos do estilsita  Alceu Penna   eu jamais imaginaria que a Mattel teria um lançamento de uma Barbie Alceu Penna  a Boneca Barbie Brazilian Banana Bonanza por Bob Mackie:

outras Bonecas Barbie Tipicas Brasileiras que mantenho em minha Coleção

Uma das Garotas de Alceu Penna

Alceu Penna

heloisabuarquedehollanda.com.br

É inevitável, para mim, voltar no tempo quando penso em Alceu Penna. Me lembro imediatamente de minha ansiedade, ainda adolescente, esperando O Cruzeiro aparecer nas bancas e eu, correndo as páginas da revista, para encontrar as “Garotas” da semana.  Não só para mim mas para minha geração de meninas que iam ao cinema Rian à tarde e depois iam em grupo tomar sunday de Morango com waffles nas Americanas, Alceu Penna era um modelo de comportamento. Sentíamos suas páginas como modernas, atuais, descoladas. Eram frases, gestos, formas de olhar e seduzir, as

Roupas, chapéus, maiôs, fantasias. Ah! As fantasias de carnaval, fielmente copiadas pelas costureiras do bairro…

 

Dei meu exemplo, porque acho que Alceu Penna marcou, durante os anos 50/60, no Rio de Janeiro e demais capitais do país onde chegava seu traço e seu talento, um estilo de vida contemporâneo, prazeroso, anti-europeu, brasileiríssimo.

Uma influência que exercia não apenas no comportamento e no ethos das camadas jovens femininas, mas que também marcou o conjunto de sua extensa e polivalente atividade criativa. Como estilista, pode-se dizer, sem medo de errar, que Alceu foi o pioneiro na criação de moda no país. Abandonando os traços importados na Casa Canadá, central da moda naquele tempo,

Alceu parte, em vôo livre, para descobrir o que seria o estilo brasileiro de viver e se vestir. E surge aquela sequência fascinante de modelos de noite e de passeio, que interpretam como ninguém as fantasias de sedução e a sonsa elegância da mulher brasileira. E surgem ainda as fantasias de carnaval, puro desejo que transformação em personagens misteriosas, picantes, viajantes, realizando, au grand complet, a função carnavalesca de liberação dos papéis  cotidianos durante os quatro dias de folia. E surgem as variáveis radicalizadas desses caminhos: os luxuosos figurinos de do nosso melhor teatro de revista e as estonteantes  pinups de seu desenho publicitário.

Suspeito, com certa convicção, que nenhum artista brasileiro estudou e atualizou tanto e tão profundamente as possíveis respostas à enigmática pergunta de mestre Freud: “o que querem as mulheres?”